Celebrar o amor é celebrar a vida

Reprise

Photo : Filipa Moreira da Cruz

A 14 de fevereiro celebra-se o São Valentim em quase todo o mundo. Existem, pelo menos, três versões em volta desta festa. Partilho a que se dedica à história do padre de Terni que viveu no século III e opôs-se às ordens de Cláudio II.

Segundo a lenda, o imperador decidiu proibir todas as uniões porque acreditava que os homens solteiros combatiam melhor e, na altura, a guerra era a prioridade. Valentim fez orelhas moucas e continuou a celebrar casamentos entre cristãos. Cláudio II ordenou que o encerrassem numa prisão. Foi aí que Valentim conheceu Júlia, a filha do carcereiro, que era cega desde nascença. Ele descrevia-lhe o mundo e ela trazia-lhe comida e água todas as noites. Apaixonaram-se e, certo dia, o milagre aconteceu: Júlia recuperou a visão. Assim que Cláudio II soube deste acontecimento ordenou que Valentim fosse executado e o dia escolhido não foi um azar. 14 de fevereiro coincidia com a celebração das festas Lupercais que celebravam a fertilidade e a procriação.

Séculos mais tarde, a lenda é alimentada através de cartas e postais enviados entre os namorados. Diz-se que a amendoeira que se encontra ao lado do túmulo de Valentim foi plantada por Júlia e esta árvore, ainda hoje, está associada ao amor. O resto é história porque ninguém cá está para contar o que realmente aconteceu. Mas eu gosto muito de lendas. Elas personificam a natureza, enaltecem seres humanos banais e ajudam-nos a compreender o nosso passado. E os milagres fazem-nos acreditar que tudo é possível. A esperança é alimentada pela própria vida.

Photo : Filipa Moreira da Cruz

Eu tenho duas razões para celebrar o dia de São Valentim. Quis o destino que eu conhecesse o meu marido num 14 de fevereiro, há quase 20 anos. Aconteceu em Méribel, nos Alpes Franceses, num dia frio, de céu azul e coberto por um espesso manto branco. Não gosto do inverno e a neve não me seduz, mas nesse dia, nem a temperatura negativa impediu o coup de foudre. Não consegui controlar as borboletas que faziam cócegas na barriga. Eu que nunca acreditei no amor à primeira vista! Primeiro milagre.

O segundo ocorreu quando o meu filho nasceu. Foi a 14 de fevereiro que o vi pela primeira vez, após ter passado vários dias nos serviços de reanimação e de pneumologia num hospital do centro de Paris. Recordo-me da emoção ao ver esse bebé prematuro ligado a várias máquinas. Tão pequenino e frágil. Na véspera do regresso à maternidade o meu quarto foi invadido por uma dezena de médicos. O professor declarou aos alunos: « há certas coisas que a medicina não consegue explicar ». Porque a ciência não é compatível com milagres, pensei eu. O pediatra, que reanimou o meu filho, limitou-se a dizer, com os olhos húmidos, « este bebé vem de longe ». O parto correu mal, mas a nossa história teve um final feliz.

Na minha família fomos vários os que tivemos a Covid-19. Uns sofreram mais do que outros, mas esses episódios menos agradáveis já fazem parte do passado. Quantos não tiveram a mesma sorte? Quantos perderam familiares e amigos em 2020 e 2021? Quantos passam por este mundo sem saber o que é o amor verdadeiro? Esse que dinheiro nenhum pode comprar? Quantas mulheres, no século XXI, não sobrevivem ao parto? Quantos bebés prematuros não resistem ao primeiro suspiro?

Tenho várias razões para celebrar a vida. E 14 de fevereiro é uma boa data para fazê-lo. Celebro a vida, o amor e os reencontros. Só existe uma certeza absoluta, a de que, um dia todos vamos morrer. Ninguém escapa à morte. Resta-nos festejar a nossa passagem pelo planeta Terra da melhor maneira possível. Porque viver é o mais belo dos milagres!

Filipa Moreira da Cruz

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