Reprise

Intrépidos, destemidos, aventureiros e ousados. Assim são alguns lusitanos. Não importa a razão, apenas o impulso de procurar aqui fora o que não se encontra lá dentro. Admiro os que saem da sua zona de conforto e correm riscos. Os que sabem que, mesmo que regressem, nunca serão os mesmos. Aconteceu-me a mim (mas isso é irrelevante) e, sobretudo aos cinco portugueses que se seguem.
Nasceu na Póvoa do Varzim, assistiu à inauguração do canal de Suez, visitou a Palestina e foi cônsul de Portugal em Havana, Newcastle, Bristol e Paris. Viveu 12 anos na capital francesa e morreu em Neuilly sur Seine em 1900. Os franceses chamam-lhe o Balzac ou o Flaubert português. Mas Eça de Queiroz era um caso à parte. Único na sua escrita, mestre de uma prosa elegante, idiomática e internacional. Integrou a Geração de 70, numa ânsia de modernizar o Portugal agrário. Foi percursor do realismo e as suas obras são, ainda hoje, extremamente pertinentes e atuais.
Nasceu em Lisboa, no dia 13 de Junho, mas os seus primeiros versos foram escritos em inglês. Durante muito tempo foi nesta língua que manifestou o seu caráter pouco convencional e a sua melancolia. Fernando Pessoa viveu na África do Sul e foi estrangeiro no seu próprio país. Refugiou-se no álcool e morreu antes de cumprir os 50, vítima dos seus excessos. Admiro o escritor, o tradutor exaustivo, o homem inconformado, o poeta. E revejo-me quando afirmou que « nunca um verdadeiro português foi português: foi sempre tudo ».
Maria Helena Vieira da Silva nasceu no mesmo dia que Pessoa e ambos partilham a data com o mais internacional santo português. Viveu na Suíça, no Brasil e em França. Foi em Paris que passou a maior parte da sua vida, juntamente com o seu marido Árpád Szenes. Mas nem tudo foram rosas na trajetória pessoal da pintora. Por duas vezes o Estado português recusou a nacionalidade portuguesa a ambos os artistas. Apátridas e exilados no Rio de Janeiro, só em 1956 obtiveram a nacionalidade… francesa! Foram condecorados em França em 1960 e o reconhecimento em Portugal só chegou após a revolução de abril. A artista nasceu portuguesa e morreu francesa, em Paris.
Casou com uma jornalista espanhola, ganhou o prémio nobel da literatura e viveu numa ilha europeia mais perto de África que do velho continente. Não escolheu Lanzarote por acaso. Decidiu isolar-se porque estava zangado com o mundo. Quando vivi nas Canárias visitei a sua casa e senti bem firme a presença do escritor português que recusou várias vezes a nacionalidade espanhola. Crítico da sociedade capitalista e atento às injustiças sociais, Saramago usou a palavra para condenar o abuso do poder e dar voz aos invisíveis.
« O mundo real começa quando saímos da nossa casa para encontrar os outros ». A frase é de Eduardo Lourenço, um dos últimos livres pensadores do nosso país. Viveu na Alemanha, em Itália e em França. Casou-se com uma bretonne em Dinard (cidade que adoro e que é vizinha daquela onde vivo atualmente). Aposto que Annie Salamon era uma mulher com muito caráter, como quase todos os habitantes da Bretanha. O casal rumou ao sul do país onde permaneceu até 1988, ano que marcou o regresso a Portugal. O filósofo teve uma vida longa e intensa. E nunca virou as costas à nação que o viu nascer.
Uma certa ministra da cultura disse que Portugal está em dívida com Eduardo Lourenço. Atrevo-me a dizer que o ensaísta talvez não tenha sido o mais mal tratado. Muitas vezes, os homens políticos, arrogantes e obstinados com o poder, esquecem-se das personalidades ímpares que puseram Portugal no mundo. Sabem que a vida é efémera, mas ignoram que a obra dos esquecidos é imortal.
Filipa Moreira da Cruz
Ainda bem que há por aí uma(s) Filipa(s) espalhadas pelo mundo que se lembram de enaltecer os portugueses de obra imortal!
Bom dia de Portugal!🧡💚
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Nunca me esqueço da pátria e admiro os nossos portugueses imortais. ❤
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Estando en Venezuela, me llegó « La Colmena » y después me leí 14 libros de Saramago. Junto a Vargas LLosa y García Márquez, son mis escritores favoritos. Con Pessoa me llevó su poesía y sigo descubriendo más y más poemas. Sin lugar a dudas que existen muchos personajes que han puesto muy arriba el nombre de Portugal. Feliz fin de semana Filipa
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Compartimos los mismos gustos Manuel. Portugal es un pequeño país, pero con grandes talentos. ¿Sigues viviendo en Venezuela? Somos ciudadanos del mundo, ¿verdad? Un fuerte abrazo.
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Hola Filipa. Llevo tres años viviendo en Chile. Vine a conocer mi nieto y me quede. En Venezuela las cosas se pusieron muy difícil tanto en la economía como en la política. Tengo otro hijo viviendo en Buenos Aires y otro en Portugal. Buen sábado para ti.
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Sí Manuel, la situación en Venezuela es muy complicada. Cuando viviendo Canárias conocí a muchos venezolanos. Un hijo en cada país. Como mis padres. Nosotros somos 4 hermanos en 4 países. Y que casualidad que uno de tus hijos viva en Portugal. Chile siempre me ha fascinado. Ojalá pueda visitarlo un día. Buen sábado para ti también Manuel. ☀️
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Portugal lo he visitado tres veces. El año pasado se casó mi hijo y estuvimos dos meses toda la familia. Él tiene 5 años viviendo en Esposende y de allí es su esposa. Lisboa me mata y Algarbe es una delicia por sus playas. Por eso voy siempre en verano.
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¡Vas más a menudo que yo Manuel! Yo nasci y vivi hasta los 22 años en Lisboa. Tengo un cariño especial por la ciudad. Todos los años pasábamos los veranos en Algarve, en playas casi desiertas. ¿Quién sabe si algún día no nos veremos por allí?
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Eso sería maravilloso Filipa. No sabes cuánta ilusión me hace saber eso.
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Igualmente Manuel. 😊
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Meus cumprimentos aos portugueses 👏👏👏👏
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Você também faz parte amiga!
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Well-told and a very interesting story. Lovely post, Filipa! 🙂
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Thank you Cheryl! 💙 It’s important to know where we came from.
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Portugal tem uma bela história. É preciso aplaudir os portugueses por sua bravura. Além da riqueza que a própria literatura expressa, creio que só temos a aplaudir por outros grandes feitos
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Todos os povos fazem coisas boas e más. 10 de Junho é dia de enaltecer os feitos dos portugueses. Obrigada Marii!
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🙏
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