Stan and Mathilde keep asking me why they can’t be with the Portuguese family. This Covid thing is taking too long, they say. Lisboa, Tomar, London, Verona… so close and yet… so far! What’s the point of having two weeks of vacations if we can’t join the ones we love the most, they shoot. Sharp and clear, as usual. I miss my family and friends that are family too. They are spread all over the world. That’s the price to pay when you live abroad. Sometimes, it’s just unbearable. Sometimes, it’s too painful. My soul is shrinking and my body is sore. We stop counting the days because they turned into weeks, months, years. If only we knew… For the first time, we are sure that « non andrà tutto bene ». We will move on, inevitably. But life will never be the same.
A minha irmã avisou-me e eu pensei estar preparada. Enganei-me. E o choque foi imenso quando vi a minha mãe (ainda jovem e cheia de vida) tão magra e debilitada, deitada na cama do hospital. Parecia uma boneca de porcelana, com a tez esbranquiçada e o corpo mirrado. Ou um copo de cristal que, só de olharmos, temos medo de quebrar em mil pedaços.
Hospitais já esteve em três: o de Tomar, o de Abrantes e o de Torres Novas, onde a fui visitar. Aproveito, em seu nome, para agradecer às equipas de médicos, enfermeiros e auxiliares de saúde pelo esforço, carinho e dedicação, principalmente deste último que conhece melhor. A minha mãe não podia estar em melhores mãos. Confessou-me que só por isso já valeu a pena ter saído de Lisboa, cidade onde viveu até aos 62 anos. No IPO o tratamento é outro, não por falta de vontade (antes pelo contrário!), mas por escassez de meios e excesso de doentes.
Nas fotografias parece composta e mostra sempre um sorriso. Faz um esforço descomunal para fingir que está tudo bem. Os que a conhecemos bem, sabemos que é forte e resiliente. Encara as adversidades sem rodeios. Mas desta vez, é mais grave. Os dois cancros anteriores são uma brincadeira comparados com o que lhe caiu em cima.
As constantes precauções não conseguiram evitar que fosse infetada com a Covid e, como não melhorava, acabou por ser hospitalizada durante três semanas. Os médicos dizem que, por um lado, o vírus acelerou a doença e, por outro, permitiu descobrir as inúmeras metastáses espalhadas pelo corpo.
Photo : KaDDD
Esta « doença prolongada » que corrói o corpo, esvazia a alma e arrasta toda a família tem um nome feio e múltiplos rostos. Porque não há duas pessoas iguais. O cancro aloja-se em qualquer lado e desafia o ser mais perseverante e otimista. Felizmente, muitos são curáveis, mas nem todos têm um final feliz. Quanto aos prognósticos, só mesmo no final do jogo, como dizia o outro. Nenhum médico se atreve a fazer antevisões. Até porque os milagres ocorrem todos os dias.
E o que fazer? Esmorecer até ao derradeiro sopro? Viver em sobressalto com medo do telefonema que nos anuncia o pior? Nem pensar! A única certeza é que só existe o agora, por isso, mais vale aproveitar cada momento, sem dor nem sofrimento. Obviamente, é mais fácil dizer (neste caso, escrever) que fazer. E sei por experiência. Mas quem nos garante que a morte não chega como um raio, disfarçada de um súbito enfarte ou um acidente de carro?
A vida é frágil e efémera. Um dia estamos aqui e no outro… Nascemos e morremos, é uma evidência. Mas isso não significa que tenhamos que contar os segundos para o derradeiro final, mesmo que estejamos num beco sem saída. Os que se apagam devido à tal « doença prolongada » (algo cada vez mais banal) têm o direito de desfrutar do tempo que lhes resta com dignidade.
Para os que acreditam na vida eterna (como a minha mãe), é mais fácil e natural encarar o que se segue. A morte não é um fim, mas o meio para chegar ao outro mundo. O tempo passado na Terra é um breve suspiro, comparado com a Eternidade que nos espera. Oxalá, pudéssemos partir todos em paz.
Esta questão é-me colocada várias vezes ao longo do dia. Os franceses têm-na na ponta da língua e respondem por automatismo: ça va. E eu não fujo à regra porque ninguém está interessado em ouvir um desabafo, uma apreensão. Ninguém tem tempo para lamurias nem queixas. Ninguém se preocupa com os problemas dos outros nem as vidas alheias. Ninguém quer saber se estamos bem ou mal. Quem nos pergunta comment ça va está à espera de um simples ça va. Com os amigos a história é outra. Felizmente.
E se, de repente, começarmos a dizer… ça va pas?
Já passou um ano desde o primeiro confinamento. O que era impensável até 2020 tornou-se uma realidade. A nova normalidade engoliu os velhos hábitos. O cenário de um filme de ficção científica passou a fazer parte das nossas vidas. As imagens apocalípticas são o nosso quotidiano. O fim deste pesadelo teima em não chegar. Ça va pas!
No ano passado, em França, morreram 111 mulheres vítimas de violência doméstica. O número é mais baixo que o de 2019 (146), mas está longe do ideal 0. É verdade que ocorreram menos mortes, mas a violência doméstica aumentou consideravelmente desde a pandemia. O confinamento só veio piorar a situação de todas aquelas que não vivem num lar, mas sim numa prisão. Ça va pas!
A vacinação avança a passo de caracol. Os ricos contornam o sistema e conseguem doses pagas a preço de ouro. Lotes inteiros de vacinas desaparecem misteriosamente e outros são roubados, à descarada. Por outro lado, há tendas militares vazias, à espera de pessoas que teimam em não vacinar-se. Médicos e enfermeiros deitam frascos fora porque os utentes que estavam inscritos resolveram não aparecer. Ça va pas!
O desemprego na Europa atinge níveis assustadores e para muitos o layoff continua, pelo menos, até ao Verão. As próximas gerações vão herdar uma pesada dívida. Será o seu ADN económico-social. E isto num continente com uma reduzida taxa de natalidade. De acordo com dados apresentados pela Comissão Europeia, em 2018 houve 1,55 nascimentos por mulher. Apesar de tudo, a França continua a ser a campeã dos nascimentos do velho continente, mas os números também têm vindo a baixar. Ça va pas!
Os estudantes universitários são os mais sacrificados desde o início da pandemia. Não têm aulas presenciais há um ano, não têm recursos para comer nem aquecer os minúsculos estúdios que lhes servem de teto. Muitos viram-se obrigados a regressar à casa dos familiares. Outros têm vergonha e preferem sobreviver, mais mal que bem. Há ainda os que desistem da vida, de um dia para o outro. Fecham os olhos para sempre porque se recusam a ver este miserável mundo novo. Em Espanha, 40% dos jovens com menos de 25 anos estão no desemprego. Ça va pas!
Passaram quase 5 anos desde a assinatura do Acordo de Paris e estamos longe de conseguir reduzir os excessos que nos conduzem a uma catástrofe ecológica. O meio ambiente ainda não é uma prioridade para nenhum país. E de nada adianta apontar o dedo ao vizinho quando não limpamos a própria casa. A humanidade esteve em êxtase perante as fotografias das ruas vazias, dos animais que passeavam descontraidamente, dos oceanos que recuperavam a sua cor natural. Foi sol de pouca dura! Agora chocam-nos as máscaras lançadas na sarjeta e a quantidade de embalagens de comida e copinhos de cartão para o café atirados para o chão. Efeitos colaterais do take away. Ça va pas!
Da próxima vez que me perguntarem comment ça va, o melhor será ficar calada para evitar chocar os mais sensíveis ou dar um abanão aos mais distraídos.
Há uns dias ligou-me uma amiga. Finalmente (pensei)! A última vez que falamos ao telefone foi no início do ano. Depois dessa data enviei-lhe várias mensagens, mas nunca obtive nenhuma resposta. Quando atendi o telefone apressou-se a desculpar-se dizendo-me que estava muito ocupada. Com o quê? Não tem filhos e está em layoff desde novembro. Obviamente que estas ilações não foram pronunciadas em voz alta. Tento sempre evitar juízos de valor antes de conhecer a situação. Ainda bem que o fiz.
A Louise soube, em Fevereiro, que tem um cancro do cólon e começou, pouco depois, os tratamentos. Três vezes por semana, a ambulância vai buscá-la a casa para as sessões de radioterapia. O cateter já foi colocado para a quimioterapia que se segue. O médico disse-lhe que foi diagnosticada a tempo, mas lamentou que a paciente não tivesse ido à consulta desde o aparecimento dos primeiros sintomas. A minha amiga relembrou-lhe que o rendez-vous foi adiado três vezes por causa da « crise sanitária ».
Não pude deixar de pensar na minha mãe. Tal como a Louise, também ela não gosta de incomodar os outros com aspetos ligados à saúde e raramente se queixa. Quando me ligou para anunciar-me que tinha um cancro (o primeiro) disse-me: « estou com um probleminha ». Eu perdi o chão, faltou-me o ar. Fiquei sem palavras. Algo que acontece raramente. Na altura, vivia em Paris e estava a ponto de mudar-me, com a família, para a Nova Caledónia. O meu marido acabou por recusar a oferta de trabalho. Estava fora de questão ir viver para o outro lado do mundo.
A situação repetiu-se, mas eu não fui atrás da história da Carochinha. Quando a minha mãe me voltou a anunciar outro probleminha apanhei o avião e conversamos na sala da casa em Alvalade, pouco tempo depois de ter aterrado. Uma das vantagens de ter um aeroporto dentro da cidade. Acompanhei-a ao médico na Avenida de Roma e a uma consulta no IPO, onde fiquei na sala de espera. Desta vez, a minha mãe foi tratada exclusivamente no hospital público, o que a fez respirar de alívio por razões económicas e, sobretudo, humanas. Os serviços privados, muitas vezes, dão-se ares de hotéis de cinco estrelas esquecendo-se que os pacientes não precisam de room service 24 horas ou de um concierge, mas sim de quem cuide deles.
A Louise não tem outro remédio que ser seguida numa clínica privada porque a prioridade dos hospitais públicos ainda é a Covid. Felizmente, ela tem um bom seguro de saúde. Mas e se não fosse o caso? Como se tratam, neste momento, as pessoas que não têm dinheiro? Quantas operações foram adiadas? Quantas cáries não foram tratadas? (Espero que não seja o meu caso porque tenho pânico do dentista!) Quantos cancros não serão diagnosticados a tempo? Deixámos de ter direito a estar doentes. Só somos considerados seres humanos que necessitam assistência médica enquanto tivermos o vírus. Assim que o resultado for negativo deixamos de ser importantes aos olhos da medicina, ignorando-se os sintomas que persistem. Escrevo-o com conhecimento de causa.
O mês de dezembro foi peculiar e o dia do meu aniversário foi passado entre o apartamento onde vivo e uma excursão a quatro até ao centro de rastreio Covid. Uma semana antes tínhamos estado em casa de dois familiares do meu marido que confirmaram, mais tarde, serem positivos. Confesso que, na altura, ninguém tinha máscara, com exceção do meu filho que raramente se separa dela (tal foi o susto que apanhou com o maldito vírus!). Após este episódio infeliz, a Segurança Social exigiu-nos dois testes, o serológico e o RT-PCR. O primeiro confirmou-nos duas coisas: tivemos o vírus e ainda temos anticorpos. Obviamente que o segundo deu negativo.
Um momento de desatenção provocou uma reviravolta nas nossas rotinas. Os meus filhos não foram à escola durante oito dias e os amigos mais chegados entraram em pânico. Eu estive em teletrabalho e os nove colegas com os quais partilho habitualmente o mesmo espaço foram forçados a fazer o mesmo, por precaução. Felizmente, o meu marido não pode trabalhar à distância, por isso, couberam-lhe a ele as tarefas domésticas, algo que faz com agrado.
Foram vários os Natais que não passei no meu país por razões profissionais. Os meus filhos fazem questão de se reunir com a família portuguesa nesta altura do ano e estão habituados a viajar sozinhos. Prometi-lhes que, em 2020, não trabalharia durante este período e que, estaríamos todos juntos em Portugal. Pude apenas cumprir uma das promessas. Ainda não foi desta que nos voltamos a reunir.
Em França, os restaurantes, cafés, pastelarias e bares estão totalmente fechados desde 30 de outubro e devem permanecer assim, até pelo menos, 20 de janeiro. Cenário idêntico para os cinemas, teatros e salas de espetáculos. É desolador passear pelas ruas pedonais do centro histórico da cidade onde vivo. O recolher obrigatório também continua e agora passou a ser das 20h00 às 06h00. A única exceção é o dia 24 de dezembro. No último dia do ano estarão 100.00 polícias na rua para que a população cumpra o distanciamento social. Liberdade (mais que) condicionada. Tolerância zero.
Apesar do governo ter autorizado seis adultos (as crianças não contam) na ceia de Natal nós decidimos passar a noite de 24 de dezembro só os quatro. A minha filha ficou tão traumatizada com o teste Covid que se recusa a partilhar a casa com outras pessoas que não pertençam ao agregado familiar.
A mesa foi decorada a preceito e cada um tinha um menu personalizado. O chef impressionou-nos com o seu sumptuoso festim. E até houve bacalhau! Jogamos ao Cluedo, ao Trivial Pursuit Junior e quando eu já estava à beira de um ataque de nervos com o interminável Monopoly o meu filho decidiu que estava na hora de abrir os presentes. Aleluia!
Este ano foi assim. Em 2021 logo se verá. Deixei de fazer planos e cada vez tenho menos expectativas. Vivo o momento porque há certas realidades que nos escapam e outras que nunca chegamos a controlar. Carpe diem.
Bem-vindo à “nova normalidade”! Quer ir dar um mergulho no mar? Não há problema! Basta tirar a senha e esperar pela sua vez! Se preferir, fazer um piquenique no parque ou no jardim do bairro, não há nada mais simples! Coma, beba, converse e vigie as crianças de pé porque os bancos são apenas decorativos e a relva está reservada. Se necessitar comprar um par de óculos não hesite em levar uma máscara da mesma cor do modelo pretendido. Mas se não conseguir, não se preocupe. Deite fora a sua (pode ser mesmo na sarjeta) e vá buscar outra que faça conjunto.
Errar é humano e vale tudo para salvaguardar a aparência. E nas férias, como vai ser? Calma, está tudo controlado! Road trips é o que está a dar! As reservas de petróleo estão à nossa espera e as autoestradas também. Para os mais apressados, há aviões com tripulação e passageiros mascarados e uma rica quarentena no país de chegada. E que tal um café e um bolinho no bistrot ao lado de casa servidos no plástico tão amigo do ambiente? Feito!
2020 começou mal e, por este andar, vai terminar em apoteose. A História tem tendência a repetir-se, mesmo que nada seja exatamente como antes. Séculos depois da Peste Negra, 100 anos após a gripe Espanhola e passadas duas grandes guerras o ser humano vive aterrorizado com a ideia de uma 3ª Guerra Mundial. Entretanto, foi um vírus com várias coroas que virou o mundo do avesso. Parece que no velho continente o pior já passou e a Europa pode, finalmente, celebrar o desconfinamento com pompa e circunstância. E até o Verão antecipado vem ajudar à festa. Uns saem à rua destemidos, a falar alto e de peito erguido, enquanto outros caminham nas pontas dos pés e limitam-se a sussurrar, com medo de despertar a cólera do monstro.
São poucos os que admitem que quase nada será como antes. É mais fácil viver o presente. Até porque tudo pode mudar de um momento para o outro. Escasseiam os que reconhecem que o antigo “normal” já quase não existe. Resistimos a equacionar outro modo de vida porque o desconhecido assusta-nos e obriga-nos a sair da nossa zona de conforto. Preferimos acreditar que o mundo está à nossa espera tal como era, intacto. É importante confiar que vai correr tudo bem. Às vezes um placebo é mais eficaz que um antibiótico. Basta crer. A fé move montanhas.
A pandemia deixou-nos órfãos de afetos, de abraços, de aconchego. Os laços intergeracionais foram bruscamente interrompidos. As crianças ficaram sem escola, sem amigos, sem professores. E pior ainda, sem brincadeira nem recreio. Os doentes crónicos tornaram-se invisíveis e ir ao dentista passou a ser missão (quase) impossível. Já são muitas as pessoas que perderam o emprego e outras serão forçadas a mudar de rumo. Certas profissões deixarão de existir e surgirão novas. O futuro é agora e tudo é efémero.
A vida continua, mas as feridas mais dolorosas permanecem invisíveis e vão demorar tempo a cicatrizar. É mais fácil pedir ajuda para comer que admitir que o nosso espírito está debilitado. Os nervos estão à flor da pele, a paz interior foi abalada e este vírus é o álibi perfeito para todos os males da sociedade contemporânea. A partir de agora, é tudo culpa da covid. Para alguns, dar a volta por cima exige um esforço demasiado elevado. E o mau da fita está mesmo à mão de semear.
Recomeçar, renovar, reinventar, reciclar. A mudança não me assusta. Sou nómada por natureza. E otimista também. Já vivi em tantas casas que perdi a conta. Saint-Malo é apenas mais uma passagem. A cité corsaire, em tempos habitada por piratas reconhecidos pelo próprio rei, é única e autêntica. O seu clima rude forjou personalidades fortes de marinheiros e navegadores. Daqui saiu a primeira expedição à Terra Nova (Canadá) liderada por Jacques Cartier.
Nesta cidade, banhada pela Mancha e onde há quase mais praias que pessoas, aprendi a ouvir o silêncio e a seguir o vento que vem, muitas vezes, do Mont Saint-Michel, esse lugar mágico. Deixei de levar a vida tão a sério há algum tempo e planos só mesmo a curto prazo. Este vírus veio dar-me razão. A vida é feita de imprevistos. E ainda bem. Se for para ficar, ficaremos. Se o nosso destino for soltar amarras e partir, partiremos. Não é por acaso que o meu melhor amigo, que é Alemão, me chama “a malinha pronta”.
Bem vindos à nova normalidade! Maio 2020 já é uma data histórica para muitos habitantes do planeta azul. O mês do desconfinamento, da desclausura, mas sem desobediência nem desenvoltura. Avançamos a passos de bebé, com prudência e sem excessos. Caso contrário, voltaremos para casa antes de saborear a tão ansiada liberdade. Como dizem os franceses, en mai, fais ce qu’il te plaît (em maio, faz o que te apetece). Será? Pela primeira vez, na época contemporânea, uma pandemia virou tudo do avesso . O que era válido e aceite foi posto em questão, modificado e, até mesmo, abolido. Esqueçam (quase) tudo o que viveram até agora. O verdadeiro milénio começa com a era pós covid19.
As novas medidas de distanciamento, as regras de higiene a cumprir, os trabalhos que deixarão de existir e os que surgirão vão ser uma prova de fogo à nossa resiliência, criatividade e capacidade de superação. No início, parece tudo simples porque em teoria corre tudo bem. Mas na prática, as coisas são outras. Os seres humanos não têm comportamentos previsíveis como o cão de Pavlov. A genuína revolução não se escreve a vermelho numa folha de papel, nem se desenha com régua e esquadro. Este vírus tem demonstrado que, de um momento para o outro, tudo muda.
Cientistas, médicos e virologistas não chegam a consenso e o coronavírus não vai de férias tão cedo. Está a dar-lhe um gozo enorme infetar e, por vezes até matar, ricos, pobres, altos, baixos, gordos, magros, solteiros, viúvos, casados, velhos, jovens, migrantes, emigrantes, imigrantes, enfermeiros, doutores e engenheiros. A maldita covid-19 é capaz de derrubar mega potências económicas, provocar um pandemónio diplomático e trancar a quatro chaves quase toda a população sem alaridos nem fogos de artifício. Não foram necessárias as tão temidas armas químicas, nem foi lançado nenhum míssil nuclear. Bastaram o pânico, o medo e a desconfiança. Este inimigo é subtil, traiçoeiro e imprevisível.
Mas vamos ao que interessa! Afinal de contas, a vida continua e os países são unânimes: a retoma económica não pode esperar. Em França, muitos regressaram ao trabalho munidos de máscaras, luvas e viseiras. Não havendo testes para todos aposta-se na prevenção. As pessoas desejam recuperar a vida de antes, mas esta nova realidade transformou hábitos e rotinas. De repente, os donos dos cães mudam de passeio para evitar qualquer contacto, os vizinhos deixam de se cumprimentar com medo que um simples bonjour os possa contaminar, as crianças já não brincam juntas nos parques, as padarias não têm o pão do dia cortado aos bocadinhos para provar. Caminhamos apressadamente e analisamos, de longe, os rostos uns dos outros com um ar desconfiado porque é mais difícil sorrir com os olhos.
Os professores, bem como todos os funcionários do meio escolar, passaram a estar mascarados e só falta a capa para serem autênticos super heróis. A escola reinventou-se, o melhor que pode, para cumprir todas as normas: entrada e saída por portas diferentes, máximo de 15 crianças por sala (finalmente!), marcas no chão, lavagem frequente das mãos, música durante o recreio, aulas de yoga e meditação. Vale tudo para preservar a harmonia entre os mais pequenos. A cantina também se adaptou, passando a acolher apenas metade da capacidade para respeitar a distância exigida.
Os cabeleireiros voltaram a abrir portas e como ninguém pode viver muito tempo sem cortar o cabelo, não têm tido mãos a medir. De tesoura e pente na mão, os profissionais tentam remediar o desastre porque lhes foi impossível evitar o pior, uma vez que isso já tinha sido feito em casa. Para alguns, a carecada foi mesmo a única solução. E que dizer do sexo feminino! É ver desfilar velhas e jovens com cabelos tricolores porque, num devaneio, tiveram a triste ideia de pintar a cabeça de verde, azul ou cor-de-rosa e agora não aguentam a máscara tantas horas seguidas para ser feita uma descoloração em condições. “Fica como ficar”. Estas proezas justificam os novos tarifários e nem os franceses, que são peritos em queixar-se, ousam resmungar. Eles são cordon bleu, especialistas em bricolage, canalizadores improvisados, mecânicos por necessidade, mas cabeleireiros é que não!
Os restaurantes e os cafés ainda não estão operacionais. Isso dá-lhes mais algum tempo para a grande mudança. Ousadia, imaginação e sentido de humor serão os melhores aliados dos profissionais da restauração. Surpreendam-nos, senhores! A nova normalidade talvez seja servida em pratos e talheres biodegradáveis, copos de cartão, cadeiras espaçadas (lá se vai o bistrôt parisien), ementa escrita na velha ardósia ou menus descartáveis. A brigada na cozinha vai ver o chef à distância, por motivos de força maior, claro!
Para muitos empregados será ainda melhor que ganharem o euro milhões. Quanto aos clientes também terão que ser audazes. Esqueçam tudo o que conheceram até agora. Os que tinham em mente um jantar íntimo e romântico, abstenham-se. Em contrapartida, aqueles que contam as calorias e recusam-se a engordar estão cheios de sorte. Munidos de máscara serão incapazes de degustar seja o que for, mas como os olhos também comem… “Vê, paga e cala”!
E os beijos, as carícias, os abraços? Os gestos que nos acalmam e reconfortam voltarão algum dia? Esperemos que sim, para o bem da Humanidade. Nenhuma aplicação virtual substitui os afetos. Até lá, as palavras serão as únicas capazes de aliviar as dores do corpo e da alma.
Só quem te conhece mal é que se atreve a concluir, erradamente, que és a nossa irmã gémea. Tu és ímpar, singular, cosmopolita, multicultural. Berço de mil e uma noites, de reis e de rainhas, de uma guerra civil sangrenta e de uma ditadura franquista. Terra de montanhas, serras e mesetas banhada pelos mares mediterrâneo e cantábrico e pelo oceano atlântico. Coberta pela neve dos pirinéus, da sierra nevada e do monte Teide. As águas translucidas de Formentera e as praias de areia dourada da costa de Cadiz fazem de ti única e especial. E que dizer das sete ilhas encantadas que arrebataram o meu coração? Foste a minha casa durante sete anos, repartidos por três lugares: Tenerife, San Sebastian e Fuerteventura e só por isso ser-te-ei eternamente grata.
Muitos consideram-te vaidosa, arrogante, egocêntrica porque os teus sentem orgulho em ti e em tudo o que ofereces. E como se fosse pouco ainda criaram a “marca Espanha” representada, entre outros, por Rafael Nadal, Antonio Banderas, Ana Botín, Pau Gasol, Fernando Alonso. E eu peço-te apenas que partilhes um bocadinho dessa magia com os do meu país que tanto teimam em deitar abaixo tudo o que é nacional.
Falo, leio, escrevo, canto e sonho em Castelhano regularmente. Faço-o por gosto e, acima de tudo, por necessidade. Lo llevo en la sangre. Ou não tivesse eu antepassados nascidos em Santiago de Compostela e Valladolid. Conheço Espanha quase tão bem como Portugal e são poucas as regiões que ainda não visitei. Este amor incondicional por nuestros hermanos já vem de família. Durante anos o aniversário da minha mãe era sempre passado no país vizinho. Mais tarde, empenhei-me em não romper a tradição. Foram muitos os dezembros celebrados em Bilbao, Sevilha, Mérida, Ávila, Girona, Toledo, Corunha…
O curso de Espanhol para estrangeiros na universidade de Málaga e as conferências em Salamanca e Gijón, cidade onde viveu o saudoso Luis Sepulveda, permitiram-me um conhecimento mais sólido deste país tão próximo e, ao mesmo tempo, tão longe do nosso. Mas o êxtase do enamoramento chegou com o novio espanhol. Juntos percorremos a Andaluzia de mota, viajamos por toda a Galiza, dormimos nos Paradores mais emblemáticos, visitamos Madrid vezes sem conta… Recordo com carinho a paella dos domingos de sol onde eu era mais um membro naquela família numerosa e alegre.
O meu amor pelo país continua de boa saúde. Já a Espanha está doente e chora as quase 27.000 vítimas da covid-19. Fechou-se em casa tarde e a más horas, segundo alguns. O que falhou? Onde é que erraram? Teorias não faltam, mas as certezas escasseiam. E agora de nada vale culpar Pedro Sanchez e o seu governo. A instabilidade política tem sido uma constante nos últimos anos e a maioria da população já não acredita em nenhum político.
As medidas aplicadas foram das mais severas do velho continente. Até há pouco tempo, só se podia sair de casa por uma razão válida: trabalho, passear o cão, ida ao supermercado, visita a um familiar que necessite ajuda. Passados quase dois meses, as pessoas estão, finalmente, autorizadas a sair dentre as 06h00 e as 10h00 ou as 20h00 e as 23h00. De acordo com os amigos espalhados um pouco por todo o país os verdadeiros heróis, excluindo todos os que estão na linha da frente no combate à pandemia, são los niños.
As crianças não só demonstraram estar à altura do que lhes foi exigido como se atreveram a superar a prova com êxito, graças à sua incrível resiliência. E eu sei como deve ter sido quase impossível mantê-las em casa! Os espanhóis vivem fora de casa. Faça sol, vento, chuva ou neve, tenham 9 meses ou 90 anos, eles ocupam as esplanadas da plaza mayor, passeiam pelas avenidas, organizam jogos e tertúlias nas ruas pedonais.
O isolamento não é sentido da mesma forma nas diferentes regiões e a apreensão no regresso à tão desejada normalidade também é distinta. Até porque o desconfinamento pode virar descalabro se não for realizado com prudência. Uma amiga de Cáceres disse-me “estou tão habituada a estar em casa que agora o que me dá medo é regressar ao trabalho”.
As zonas mais afetadas pelo vírus (Madrid, país Basco, Catalunha) são também as mais ricas do país e, provavelmente, terão menos problemas em dar a volta por cima. Em contrapartida, há outras regiões que correm o risco de ficar viradas do avesso. Os amigos que vivem na Extremadura e nas ilhas Canárias e Baleares dizem que a crise mais grave não é sanitária, mas sim económica e social. O governo está tão preocupado com a situação na península que se esquece das reais dificuldades insulares. Mas já quase ninguém estranha. Como diz um amigo, “os políticos entram e saem, mas só os reis ficam”.
Está previsto que os grandes hotéis abram as portas somente em novembro, altura em que os voos internacionais também serão autorizados. Até lá, como (sobre)vivem famílias inteiras que dependem do turismo? Por enquanto, graças ao ERTE (regime equivalente ao layoff em Portugal). Mas até quando? Ninguém sabe. Os espanhóis são especialistas em fazer das tripas coração para seguir adelante sem lamentos nem choros porque vivem ao ritmo do flamenco e do reggaeton e não do fado. A vida continua. ¡Al mal tiempo, buena cara!
Et voilà, o dia 1 de maio também esteve de quarentena. A “fête du travail” celebra-se no país galo desde 1793 e é quase tão importante como o 14 de julho (dia nacional). Pela primeira vez, não houve festejos nem desfiles da CGT ou da “France Ouvrière”. Neste mesmo dia, celebra-se outra festa: a do muguet (lírio do vale) que remonta ao século XVI. Faz parte da tradição oferecer esta flor como símbolo de felicidade, prosperidade e boas colheitas. Tudo isto em torno de um almoço com a família ou os amigos, regado com bom vinho. O governo proibiu a venda do muguet, apesar da pressão exercida pelos supermercados, floristas, horticultores e outros. Uma premiére mal digerida por muitos que se sentiram nús sem a flor “du bonheur” apenas comparável à tristeza dos sindicatos sem as suas bandeiras na rua.
Certo dia, a Mathilde decretou: «não quero ouvir mais nada da Covid-19. Estou farta deste vírus!». Já nada me estranha por parte da minha filha que, aos 3 anos, me perguntou porque é que eu era “a única gorda da família”. Na altura, fiquei sem resposta e ela rematou com um “gosto muito de ti” sincero e um abraço apertadinho. A Mathilde é assim mesmo, direta, decidida, mas carinhosa. Sai mesmo à titi Jo! O Stan é o oposto; sensível, reservado, ponderado. Talvez por isso, não me tenha surpreendido ao dizer que “os adultos estão tão preocupados com a doença, o trabalho e o dinheiro que se esquecem de viver. Com medo, não avançam”. Parece que se puseram os dois de acordo no boicote ao coronavírus, cada um à sua maneira.
Estive tão concentrada em evitar ler notícias trágicas que perdi o discurso do primeiro-ministro Edouard Philippe na Assembleia Nacional. Não fui a única. E mesmo os que ouviram todas as medidas que serão aplicadas brevemente não perceberam quase nada, deputados incluídos. Sãs muitas as incoerências e poucas as certezas. O estado de emergência sanitária foi prolongado até 24 de julho. No entanto, o início da retoma económica será já a partir de 11 de maio. Resumindo:
Abertura dos pequenos comércios, bibliotecas e pequenos museus, com exceção dos que não puderem aplicar as regras de higiene e segurança (cafés e restaurantes não estão incluídos);
Abertura de jardins e parques públicos (somente nas regiões autorizadas);
Abertura do pré-escolar e do básico com base no voluntariado (?) e máximo de 15 crianças por sala (o secundário e as universidades ainda não têm data marcada);
Aumento gradual da circulação dos transportes públicos (sempre com máscara), mas preferível o uso dos transportes individuais (carro, trotinete, bicicleta);
Livre circulação sem atestado até 100 km do local de residência;
Restrição de convívios a 10 pessoas;
Favorecer, ao máximo, o regime de teletrabalho ou aplicar horários alternados nas empresas, a fim de evitar grande número de colaboradores ao mesma tempo.
Com o propósito de gerir da melhor forma possível o início do desconfinamento, o território francês vestiu-se com as cores da bandeira de Portugal. A partir de agora, França está dividida em três zonas: verde, amarela e vermelha. Estas foram atribuídas tendo em conta dois critérios: o número de casos de Covid-19 confirmados e a capacidade de resposta dos hospitais. Após várias polémicas, (ou não estivesse eu a viver num país onde queixar-se faz parte do ADN) o mapa tricolor foi apresentado oficialmente. Por sorte, a Bretanha está pintada com a cor da esperança, tal como, a Normandia, a costa Atlântica, o país Basco e a Côte d’Azur. De amarelo ficaram o centro e os Alpes. Quanto ao norte, à região do grande este e à Île de France foram cobertos pela cor do fogo e do sangue. Os habitantes de Bordéus, Nantes, Marselha ou Nice encontraram o trevo de quatro folhas. Os que vivem em Lyon, Grenoble ou Orléans são mais controlados. Por outro lado, Paris, Estrasburgo ou Lille são os frutos proibidos.
Tal como num jogo decisivo entre o Benfica e o Sporting, ainda está tudo em aberto. Até ao apito final muita coisa pode acontecer. O verde pode virar vermelho e vice-versa. Os franceses sonham com o regresso à vida de antes e queixam-se, cada vez mais, da privação de liberdade individual e coletiva. Ainda assim, o tão ansiado regresso à “normalidade” está em suspenso. Só nos resta esperar.
No país onde vivo há três assuntos tabu: a política, a religião e o dinheiro. Paradoxalmente, os nativos têm opiniões bem formadas acerca dos três e expõem-nas com facilidade nas redes sociais ou em conversas de café, mas raramente em reuniões familiares. Os franceses adoram comentar a atualidade política e criticam todos os partidos: da extrema esquerda de Mélenchon à extrema direita de Le Pen. Pouco tempo depois de ser eleito, o presidente da República é sistematicamente posto à prova, até mesmo pelos que votaram nele. Faz parte do jogo. Perverso e invasivo.
Contrariando outro dos tabus, são muitos os franceses que se julgam doutorados em Cristianismo, Islamismo e Judaísmo. Curioso, num país que se assume como laico. Ou talvez não. A França deve ser o Estado-membro da União Europeia com mais mesquitas e sinagogas. A liberdade religiosa é tão importante que existe mesmo um artigo na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789. Quanto ao dinheiro… ninguém fala! Não se diz quanto se ganha nem quanto se gasta. Até há pouco tempo, era inapropriado perguntar-se o ordenado na primeira entrevista de trabalho.
A situação que vivemos é única. A realidade superou a ficção. E tudo muda, da noite para o dia. Literalmente. O “normal” passou a ser aberrante e o impensável passou a ser “normal”. E isto também se aplica à triologia dos temas a evitar numa conversa.
Portugal tem sido apontado como um exemplo na gestão da pandemia. Isto deve-se, em parte, à união de todos os partidos políticos para combater a Covid-19, algo que contrasta com o cenário em França e, até mesmo, na vizinha Espanha. São vários os amigos estrangeiros que me dizem que os Portugueses são solidários, unidos e civilizados. Segundo eles, o Governo agiu atempadamente, evitando a catástrofe. Os políticos lusos puseram de lado as divergências para derrotarem juntos o vírus. Talvez não seja exatamente assim, mas quem sou eu para contrariar esta versão romantizada do “milagre” Português!
O Ramadão já começou (jejum praticado pelos muçulmanos que dura entre 29 a 30 dias) e será difícil controlar o isolamento social, sobretudo a partir do pôr do sol. Partilhar a refeição com a família e os amigos é o momento mais esperado do dia. Habitualmente, a última oração é realizada em grupo. Impedir que tal aconteça vai ser um desafio quotidiano. A polémica está lançada e não há consenso. Há autarquias que já avisaram que o controlo será ainda mais apertado, enquanto outras mostram-se mais tolerantes.
A economia está adormecida, mas as despesas dispararam. O rendimento familiar de muitos lares franceses tem-se mostrado elástico perante o aumento do consumo de água, gás e eletricidade. Mas até quando? As idas ao supermercado são frequentes e os preços dos alimentos aumentaram. Fruta, legumes, carne e peixe estão mais caros. As típicas promoções do género “pague 1 e leve 2” escasseiam. Basta comparar a fatura do mesmo sítio antes e depois do confinamento. De nada serve ao Governo insistir que não houve qualquer aumento. A carteira fala mais alto. São cada vez mais as pessoas que não têm condições nem para comer. Reformados, famílias monoparentais, jovens universitários, desempregados fazem fila à porta das instituições francesas que distribuem comida. De repente, falar de dinheiro deixou de ser tabu para passar a ser primordial. Fazem-se contas à vida.
Vida essa que está em suspenso para uns e enterrada para outros. Mas o tempo não para, caprichoso e provocador. As férias da Páscoa terminaram e o 3º período começou em casa, pela primeira vez! Na pequena escola em frente à praia que os meus filhos frequentam as professoras prepararam uma pasta para cada aluno com um dossier, várias fichas, um livro (a Mathilde está desejosa de ler “O rei que não queria reinar”!) e dois cadernos. Tudo oferecido. Do 1º ao 5º ano quase todo o material é fornecido pelas autarquias. Os encarregados de educação só pagam a cantina e o valor da mesma é calculado todos os anos com base na declaração dos impostos.
Desde o início do ano letivo, os meus filhos têm acesso à plataforma digital mon école que é destinada aos alunos do primeiro e do segundo ciclos. Cada um tem o seu código e pode realizar livremente as atividades propostas de acordo com o ano que frequenta. Basta um clique para terem acesso ao jornal junior, à palavra do dia, à visita virtual de um museu, à viagem por um país no mundo, à descoberta de uma obra de arte. E, obviamente, aos exercícios de francês, problemas e jogos de matemática, pesquisas históricas, experiências científicas e vídeos explicativos. A rotina manteve-se praticamente inalterada. No entanto, as professoras passaram a personalizar, na plataforma, as mensagens destinadas a cada aluno, tendo em conta o trabalho realizado por cada um deles. Ambas têm demonstrado um enorme esforço e dedicação. Para além disso, comunicam com frequência por e-mail onde apresentam as correções das fichas e dão explicações sobre as matérias mais difíceis.
O Stan sempre gostou muito das ciências exatas e a matemática é a sua paixão. A Mathilde sai a mim. Gosta muito de escrever, tem um espírito rebelde e criativo. Ou isso pensava eu! Desde que, no ano passado, começou com o “método de Singapura” passou a preferir a matemática, como o irmão. Não me admira! Com esse método até eu deixei de ter medo dessa disciplina. Ainda assim, a minha filha continua a inventar histórias e a escrever no diário que a tia Inês lhe ofereceu no Natal. A sua professora envia, todas as semanas, o “jornal da quarentena” onde partilha os trabalhos realizados pelos alunos (à distância) e as notícias da turma. A Mathilde participa assiduamente com prazer. Inventou a história do “vírus com várias cores”, fez um mini livro com origami, realizou um vídeo na cozinha a fazer madalenas… Tudo é pretexto para passar o tempo e esquecer a razão pela qual somos forçados a ficar em casa. Ou não tivesse ela dito um dia que “deveríamos morrer todos muito velhinhos, durante o sono, sem sofrer”.