Jardim florido

Reprise

Um aroma intenso
Uma breve carícia
Um sorriso tímido
Uma mão permissiva
Um gesto desajeitado
Uma saudade levada pelo vento
Um retrato roubado
Um suspiro
Um alento
O sol num dia de Primavera
As flores do meu jardim
Estou aqui à tua espera
Será que vais chegar por fim?
Ah, quem me dera!

Filipa Moreira da Cruz

Photos : Filipa Moreira da Cruz

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Dia Internacional da Família

Pai, mãe, filho
Avô, avó, primo
Tio, tia, cunhado
O importante é ser amado
A dois, a três
A cinco ou a dez
Família tradicional ou recomposta
O que importa?
Todos cabem no nosso coração
Família é amor, partilha e união
Alegrias, tristezas
Dúvidas, certezas
Dar e receber
Família é viver!

Filipa Moreira da Cruz

Dia da mãe

Photo : Filipa Moreira da Cruz

Mãe solteira, mãe casada
Mãe viúva ou divorciada

Mãe leoa, mãe galinha
Mãe corajosa como a minha

Mãe alheia, mãe ausente
Mãe amiga, sempre presente

Mãe espancada, abandonada
Mãe forte e recuperada

Mãe adúltera e egoísta
Mãe enganada, mas pacifista

Mãe afetos, amor e coração
Mãe calculista e só razão

Mãe jovem, quase irmã
Mãe madura, mas tão sã

Mãe diplomada e estudiosa
Mãe dona da casa e laboriosa

Cada mãe é única e especial
Devendo sentir-se cada dia como tal.

Filipa Moreira da Cruz

A minha praia

Na terra em que o mar não bate, não bate o meu coração.

Caetano Veloso

Eu, você, nós dois aqui neste terraço à beira-mar. O sol já vai caindo e o seu olhar, parece acompanhar a cor do mar.

Tom Jobim

Ela mora no mar, ela brinca na areia. No balanço das ondas, a paz ela semeia.

Marisa Monte

O mundo é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.

Carlos Drummond de Andrade

Photos : Filipa Moreira da Cruz

Azul del Sur

Reprise

Azul fresco del mar
Magia, alegría y bienestar
Azul sublime del cielo
No sabes lo mucho que te quiero
Azul profundo de mis secretos
Sin subterfugios ni miedos
Azul penetrante de mi alma
Espejo que me devuelve la calma
Azul infinito de mi tierra
Más allá de lo que el mundo encierra.


Filipa Moreira da Cruz

Photos: Paul Laurent Bressin

Libertad

La libertad, Sancho, es uno de los más preciosos dones que a los hombres dieron los cielos: con ella no pueden igualarse los tesoros que encierra la tierra ni el mar encubre.

Miguel de Cervantes – « Don Quijote de La Mancha »

En la bandera de la libertad bordé el amor más grande de mi vida.

Federico García Lorca

Libertad es el derecho que todo hombre tiene a ser honrado, a pensar y a hablar sin hipocrísia.

José Martí

Photos : Filipa Moreira da Cruz

Canção de embalar

Através do teu coração passou um barco
Que não pára de seguir sem ti o seu caminho.

Sophia de Mello Breyner

Canção rente ao nada
No silêncio quieto
Da noite parada
Como quem buscasse
Seu rosto e o errasse.

Sophia de Mello Breyner

Photos : Filipa Moreira da Cruz

Desencontros

Reprise

Photo : Filipa Moreira da Cruz

– Senta-te Teresa. Vou contar-te uma história. A minha. Por favor, não me interrompas, senão não terei coragem de continuar.
Começou há muitos anos atrás, na aldeia onde nasci e conheci o meu único amor.

Os meus pais trabalhavam na quinta da família mais rica e importante da região. A nossa vida era modesta, mas nunca nos faltou nada.

Todos os dias, a seguir à escola, eu ia ajudar a minha mãe. Limpava, esfregava, arrumava. Com esmero e sem queixume. Antes de regressar a casa, a minha mãe preparava o lanche para os filhos dos patrões e eu estava autorizada a sentar-me à mesa com eles.

O Henrique era o mais velho dos dois. Sério, austero e um pouco prepotente. O António tinha um ano mais do que eu e era o sol nos dias de inverno. Bonito, simpático e cheio de vida. Faziamos tudo juntos: correr pelos corredores da grande casa, jogar às escondidas no jardim, esfolar os joelhos a subir às árvores, pescar trutas no rio. Durante a infância, sempre o considerei como o irmão que os meus pais não me conseguiram dar. O meu melhor amigo.

Na adolescência, percebi que o que sentíamos um pelo outro era mais que amizade. Recordo o nosso primeiro beijo nas traseiras da padaria da vila. As minhas pernas fraquejaram, o meu coração parecia voar. Foi o segundo melhor dia da minha vida. O primeiro foi quando tu nasceste Teresa.

Photo: Filipa Moreira da Cruz

Prometemos ficar sempre juntos. Mas o destino tinha outros planos para nós. E as nossas famílias também.

O Henrique já estava a estudar Medicina. E o António, que sempre sonhara em ser astronauta, também seria médico como o bisavô, o avô, o pai e o irmão. Casaria com uma rapariga de boa família e viviriam na capital. O seu caminho estava traçado, com régua e esquadro. Não havia espaço para « fantasias de adolescente » .

Quanto a mim, tive que implorar para frequentar as aulas noturnas de datilografia. Os meus pais não entendiam a minha obstinação em estudiar se, de qualquer maneira, iria trabalhar na quinta no dia em que a minha mãe deixasse de ter forças para o fazer. Não tive coragem de dizer-lhes que não era isso que queria para mim. Preferi fazer a mala e fugir para Lisboa para viver com uma tia. No dia seguinte de manhã, tudo o que os meus pais encontraram foi uma carta em cima da mesa da cozinha.

Em Lisboa, conheci a tão desejada liberdade! As festas, o primeiro cigarro, os namorados. Mas nunca deixei de pensar no António. Sabia que estava noivo de uma rapariga rica, mas ignorava tudo o resto.

Certo dia, vi-o, à saída do cinema Londres com um grupo de amigos. Os nosso olhares cruzaram-se apenas uns segundos, mas foi o suficiente para regressar ao primeiro beijo. A partir daí, encontrávamo-nos às escondidas no seu apartamento perto da faculdade de Medicina. O nosso amor ganhou asas e cresceu. Contra ventos e marés.

Quando o António soube que eu estava grávida jurou anular o noivado e tomar conta de mim e do bebé, mas ambos sabíamos que tal não aconteceria. Ele vivia com o dinheiro que os pais lhe enviavam. E assim que soubessem o que o filho tinha em mente deixariam de dar-lhe mesada.

Photo: Filipa Moreira da Cruz

Como em muitas histórias de amor, a nossa também não teve um final feliz. Regressei à vila com uma barriga proeminente e o coração aos pedaços. Os meus pais apressaram-se a encontrar-me um rapaz que aceitasse casar com quem carregava o bebé de outro.

Tive sorte. O teu pai era honesto e respeitador. Amou-te mesmo antes de tu nasceres. Foste desejada pelos dois, embora por razões diferentes. Para mim, eras fruto de um grande amor. Para ele, um milagre porque Deus não lhe permitira deixar descendência naturalmente.

Tinha notícias do António, ocasionalmente, mas nunca lhe escrevi nem o voltei a ver. Até há três anos. Ia a travessar a Avenida da Liberdade. Convidou-me para um café e eu aceitei. Falou-me nos dois filhos, os teus irmãos. E na mulher que morreu de cancro. Esta maldita doença não poupa ninguém! Nem mesmo os ricos! Perguntou-me por ti e porque nunca tinha respondido às suas cartas nem aos telefonemas. Limitei-me a dizer que o passado não deve ser remexido. Despedimo-nos com a certeza de que esta seria a última vez que nos veríamos. Chorei desalmadamente durante todo o trajeto do metro que me empurrou até à nossa casa.

Sabes que o tempo não está do meu lado Teresa e não queria partir com o peso deste segredo. Espero que, um dia, me possas perdoar.

Teresa envolveu o corpo magro e frágil da mãe e segredou-lhe:

– Gosto tanto de ti!

Maria do Carmo, fechou os olhos e abraçou o sono profundo.

Filipa Moreira da Cruz

Vitré V

Quem constrói a casa não é quem a ergueu, mas quem nela mora.

Mia Couto

Uma casa morre, se não é habitada com amor.

Mia Couto

A janela: não é onde a casa sonha ser mundo?

Mia Couto

O importante não é a casa onde moramos, mas onde, em nós, a casa mora.

Mia Couto

Photos : Filipa Moreira da Cruz

Encuentro inesperado

Reprise

En el camino hacia el trabajo
Veo flores y mariposas
Abejas y mariquitas
Evito las rocas
Y me resguardo de la lluvia
No me encuentro a nadie
Soy afortunada
Y cuando pensé que lo había visto todo
Apareciste tu.

Filipa Moreira da Cruz

Photos : Filipa Moreira da Cruz