Porta aberta Porta fechada Porta castanha Porta encarnada Porta moderna Porta antiquada Porta velha Porta envernizada Porta orgulhosa Porta desprendida Porta vaidosa Porta ferida Porta do fundo Porta de entrada Porta para o mundo Porta para a vida.
Verde é a minha esperança Num mundo mais justo Azul são os sonhos infinitos No céu que abraça as nuvens Verde é a felicidade de rebolar na relva Num dia de Primavera Azul é o desejo de ternura Como o mar que embala os barcos Verde é a resiliência necessária Para seguir em frente Azul é a alma melancólica Nos dias de chuva Verde é o corpo nos dias Em que espreita o sol.
Dizem que a água não tem sabor nem cheiro Depende… Dizem que os rios vão dar ao mar Depende… Dizem que depois da vida só há morte Depende… Dizem que quando o sol dorme a lua desperta Depende… Dizem que um dia somos crianças e, de repente, chegamos a velhos Depende… Dizem que depois da tempestade vem a bonança Depende… Dizem que ninguém morre por amor Depende… Dizem que dois mais dois são quatro Depende… Dizem que a felicidade é uma ilusão Depende… Dizem que os sonhos não alimentam a vida Depende… Dizem que a arte não mata a fome Depende… Dizem que não há mal que dure para sempre Depende… Dizem que enquanto há vida, há esperança Depende… Dizem tanto e fazem tão pouco Depende…
Certo dia, a menina perguntou ao pai: – Quando vou ver o mar? O pai, distraído, respondeu: – Um dia… A menina não desistiu. E no dia seguinte perguntou: – Quando vamos passear juntos? A resposta do pai foi a mesma: – Um dia… A menina cresceu e continuou a questionar-se quando iria andar de comboio, quando teria um bolo de aniversário, quando brincaria com o pai. O progenitor, demasiado ocupado, adiava os momentos a dois. Os anos voaram, o pai envelheceu e morreu. A menina foi mãe e, certo dia, o seu filho começou: – Mãe, quando…? A menina de outrora, sem sequer ouvir a pergunta, respondeu de imediato: – Hoje!
Dei rédea solta ao sentimento Soltei todas as lágrimas Chorei o que estava guardado E antecepei o que virá Lavei a alma vezes sem conta E vesti a roupa da esperança De que vale fazer planos? Para quê traçar um projeto a longo prazo Se numa questão de dias tudo muda? O futuro está nas mãos de Deus E não sabemos de que será feito o amanhã Apenas o agora nos pertence Aproveitemos cada dia…sempre!
Porque os homens são anjos nascidos sem asas, é o que há de mais bonito, nascer sem asas e fazê-las crescer.
José Saramago
O anjo voa, embora não tenha asas. Quando a exaustão chega, adormece com a cabeça nas nuvens, ignorando as fortes brasas que lhe queimam os pés. O seu corpo é um imenso mar azul. A sua alma é dourada e leve como a areia da praia num dia de Verão. Não sente calor nem frio. Desconhece a fome e a sede. Avista ao longe a cidade, mas prefere ausentar-se do seu bulício. Todas as noites, visita os que nele acreditam e lhe encomendam doces sonhos. Atira bem alto os medos alheios e devolve a esperança à Humanidade.
Depus a máscara e vi-me ao espelho. Era a criança de há quantos anos. Não tinha mudado nada… É essa a vantagem de saber tirar a máscara. É-se sempre a criança, O passado que foi A criança. Depus a máscara, e tornei a pô-la. Assim é melhor, Assim sem a máscara. E volto à personalidade como a um términus de linha.
Álvaro de Campos– Heterónimo de Fernando Pessoa
Photo : Arquivo pessoal
A Criança que pensa em fadas e acredita nas fadas Age como um deus doente, mas como um deus. Porque embora afirme que existe o que não existe Sabe como é que as cousas existem, que é existindo, Sabe que existir existe e não se explica, Sabe que não há razão nenhuma para nada existir, Sabe que ser é estar em algum ponto Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer.
A minha pele tem rugas e fendas Os meus olhos conhecem segredos E apenas tu os desvendas As nossas vidas seguem caminhos Que parecem labirintos intermináveis Os sonhos não se perdem Mas alguns erros são irreparáveis As minhas mãos apenas pedem Que as cuides para sempre Baloiço ao vento Humor frio, suor quente Rio e choro ao mesmo tempo Viajo até à tua mente, mas regresso De pés descalços e asa quebrada O mundo está virado do avesso A minha alma está desfolhada.
Loucos são aqueles que ousam ser felizes E pintam o dia com diferentes matizes Fazem as pazes com o medo A vida é um maravilhoso segredo Prestes a ser desvendado Esse tesouro tão bem aguardado Cabe na mão, no peito Embora de infinito seja feito Loucos são aqueles que buscam a verdade Em nome da tal liberdade Perseguem sonhos E falam baixinho com anjinhos Acreditam em fadas E partilham histórias inventadas Guiam-nos por labirintos Dispersos em vários recintos Louca serei eu também Por confiar de olhos fechados na minha mãe Um amor ímpar e verdadeiro Será sempre o primeiro A nascer, a crescer, a voar Libertando-se do céu e do mar Uma estrela que brilha no firmamento Solta, num total desprendimento.
Visto-me de verde da cabeça aos pés Fecho os olhos e conto até três Paz, serenidade, perseverança Empatia, solidariedade, confiança Cair 100 vezes e levantar-se 101 Ter uma mão cheia de nada E outra de coisa nenhuma A vida é uma festa, um milagre, uma surpresa Começa por acaso e acaba depressa.
Filipa Moreira da Cruz
Photos : Filipa Moreira da Cruz, KaDDD e Paul Laurent Bressin