Encontrei numa estante um caderno com anotações da minha mãe. O tal caderno, elaborado com papel reciclado, foi comprado em Itália e tem uma capa ilustrada com desenhos muito bonitos. Flores em tons de rosa, azul, verde e violeta. A caligrafia redonda e harmoniosa da minha mãe (antiga professora do Ensino Básico) devolve-me a paz. Não é fácil aceitar que o ser humano que me deu a vida está agora mirrado e deitado numa cama de hospital como se fosse um legume negligenciado numa prateleira de um supermercado. 2023 chega com um sabor agridoce e antecipo a explosão dessa dor profunda que nasceu no dia em que ouvi a fatídica notícia. Merda de doença esta que destrói não apenas o corpo que a transporta, mas também o espírito e todos os outros que o rodeiam. O meu presente de Natal foi a viagem a Portugal dos meus filhos. Estão longe dos pais, mas a aproveitar cada momento com a família portuguesa. Os netos têm uma relação muito especial com a avó materna. E não poderia ser de outra maneira! Não é por nada, mas calhou-me a melhor mãe do Universo. Sou abençoada! Peço desculpa, mas desta vez, as palavras chegaram atabalhoadas e sem harmonia. Demasiada emoção!
Seguem as frases anotadas no caderno:
Rir é o fogo-de-artifício da alma.
Arruma os teus problemas no teu saco de viagem e sorri, sorri, sorri.
Não existe uma única prova a favor da ideia de que a vida é séria.
Se estás todo embrulhado em ti próprio é porque estás demasiado vestido.
Valles, montañas y mesetas Casas grandes y pequeñas Rutas, carreteras y caminos Mares, ríos y arroyos Bebí de tus fuentes Descansé en tu sombra Comí los frutos de tus árboles Volé lejos por los aires En Logroño, Bilbao y Salamanca Me enamoré de lo que ví En Valladalodid, Burgos y Mérida Cerré los ojos y sentí Esa tuya alegría de vivir ¿Qué más puedo pedir? Ya me has dado tanto ¡España, te quiero!
My brand new phone has been stolen. Damn it! I miss reading your posts early in the morning, while drinking a cup of green tea. I miss your amazing pictures too! I usually schedule my publications in advance because my mind never sleeps. I like to antecipate, just in case… Unfortunately, during the week I can’t go through WordPress on my laptop as much as I wish, so I’ll catch up during the weekend.
Nunca pensei que me sentisse tão vazia sem o telemóvel! Quase toda a minha vida cabe na palma da mão. É assustador! O meu Samsung novo foi roubado e esta despesa imprevista, mesmo antes das férias, não vinha nada a calhar! Enfim… podia ter sido pior! Tenho saudades de enviar-vos emojis e de ler-vos logo pela manhã. Regressarei em breve!
Après le vol de mon portable (tout beau, tout neuf) les derniers jours ont été épuisants. Porter plainte à la police, bloquer la carte SIM, changer le mot de passe de tous les comptes… Oui, je suis tellement naïve que je n’ai jamais songé à avoir des codes de verrouillage et déverrouillage. Les matins ne sont plus les mêmes sans vos publications. Le parcours du bus jusqu’au travail a perdu sa grâce. Pourvu que je trouve un remplaçant à mon Samsung vite!
¡Al mal tiempo, buena cara! Me tocan unos días sin móvil, sin emojis, sin mensajes, sin WordPress desde la mañana. La convivencia con mi segundo Samsung ha sido corta, pero intensa. Lo tendré que reemplazar mucho antes de lo previsto. ¿Que se le va a hacer? Todo en la vida es efímero y nada dura para siempre.
Nos dias de hoje, « qualquer diferença torna-se uma patologia ». Quem o disse foi o pedopsiquiatra francês Thierry Delcourt. Segundo o mesmo, nos últimos 15 anos, o número de crianças diagnosticadas como hiperativas ou autistas aumentou consideravelmente e as políticas dos atuais governos contribuem (e muito!) para esta triste realidade.
Em certos Estados Norte Americanos, 25% das crianças, de uma mesma classe, são medicadas contra a própria vontade dos pais. Os professores são obrigados a vigiar que cada aluno toma os comprimidos antes de entrar na sala, sob pena de sanções. Os laboratórios farmacêuticos fazem a lei e os dirigentes políticos alimentam este poderoso lobby.
Durante vários séculos, as crianças eram consideradas como acessórios. Nas famílias mais pobres eram mais bocas para alimentar e mais braços para trabalhar, enquanto nos meios sociais abastados não passavam de criaturinhas barulhentas e mantidas à distância, graças às incansáveis amas.
Avançamos nos direitos dos mais novos e nos deveres dos mais velhos. Pais, educadores, tutores, professores têm responsabilidades e obrigações. Afinal, só tem filhos quem quer… Ou pelo menos, deveria ser assim. Muitas vezes, a hiperatividade infantil é vista como um flagelo e nada melhor que administrar as pastilhinhas às crianças.
Photo : KaDDD
O sistema de ensino ainda não é capaz de moldar-se aos tempos atuais. Continua rígido e intransigente. Exige que as crianças aprendam a ler e a contar ao mesmo tempo. Não valoriza as aprendizagens transversais, a criatividade nem a espontaneidade. Felizmente, há exceções como a escola da Ponte em Portugal e os sistemas Waldorf, Montessori e « Amara Berri ». Os meus filhos tiveram a sorte de integrar este último quando vivemos em San Sebastian e nas Canárias.
Surpreende-me e choca-me a quantidade de crianças francesas que frequentaram e ainda frequentam os terapeutas da fala e os ortofonistas. O meu marido ficou traumatizado com os 8 anos passados a deletrear. E tudo por ser canhoto! Uma amiga que é ortofonista explicou-me a pressão a que estão submetidos para ensinar a ler e a escrever a crianças sem qualquer problema, para aliviar os professores e os encarregados de educação. Um absurdo! Ela teve a coragem de recusar e passou a tratar pacientes que sofreram AVC ou traumas. Não entende porque razão esta profissão está sob a tutela do Ministério da Educação e não do da Saúde, como seria de esperar.
A minha mãe foi professora do ensino básico durante mais de 40 anos e uma das minhas irmãs é educadora de infância. São as duas bastante críticas em relação ao desfasamento entre a escola e as necessidades das crianças e isso já lhes valeu algumas disputas. O que me admira é que os recém licenciados são ainda mais retrógradas que as gerações anteriores. Saem das universidades formatados e convencem os pais de que os seus filhos têm um problema e precisam de ser seguidos pelo psicólogo.
A sociedade obriga, desde a mais tenra idade, a encaixar no molde porque dá menos dores de cabeça se formos todos iguais. Mas que aborrecido seria se gostássemos todos de azul e de gelado de morango! As crianças são hiperativas porque transbordam de energia e reclamam atenção. Quanto aos pais, muitas vezes, são passivos por falta de vontade e de tempo.
Adoro viajar! O avião e o comboio são os meus transportes favoritos. E amanhã vou ter uma dose dos dois! Saint-Malo – Rennes – Paris – Lisboa. A expedição vai ser longa, mas quem corre por gosto não se cansa.
Tirei esta fotografia há vários anos, num voo de San Sebastian a Lisboa. Ah, Lisboa… Regresso amanhã sem bagagem, mas com uma mala invisível carregada de amor e esperança. Vou oferecer beijos e abraços à família. O tão ansiado regresso!
Infelizmente, não poderei estar com a minha mãe e isso deixa-me bastante triste, mas sei que é por uma boa razão. O reencontro será ainda mais intenso. E ela está sempre presente no meu pensamento e, até mesmo, nas minhas atitudes. Se fossemos gémeas, não seríamos mais parecidas!
Estarei ausente do blog durante alguns dias porque a prioridade vai ser outra. Vou desfrutar de cada momento passado no meu país. Deixo várias publicações já programadas. Espero que gostem!
Hoje a minha mãe faz anos. 67 invernos, primaveras, verões e outonos. Uma inspiração e fonte de amor e de resiliência. Mulher sábia, assertiva, ponderada e extremamente lúcida. Tanto que, às vezes, assusta! Nem esta maldita doença que lhe voltou a invadir o corpo a derrota. Gosto tanto de si mãe! E peço a Deus que a mantenha neste mundo o tempo que for possível. Sem dor nem sofrimento. Sei que está pronta para a grande viagem, mas eu (ainda) não. Parabéns mãe! E quanto aos muitos anos de vida…que se lixem! Os que já viveu intensamente ninguém lhe tira! Três dos quatro filhos estão aí consigo para celebrar este dia. Falto eu, mas estou quase a chegar.
Deveria terminar um trabalho escrito, mas não tenho vontade… O meu amigo Fernando enviou-me um link para um exclente albúm e eu já estou noutra dimensão! Bem longe…! Voltei a ter 13 ou 14 anos. Revejo-me sentada na salinha cor de rosa preparada para ficar horas a fio a ouvir música e a escrever para aliviar a alma. Só vou descansar o corpo quando o meu pai me forçar. Ele ralha-me porque forço demasiado os olhos (o olho esquerdo e os 10% do que resta ao direito). Regressei à casa da minha infância, adolescência e início da vida adulta, em Lisboa, onde cresci e fui tão feliz! Um família de seis é sinónimo de barulho, briga, confusão, mas acima de tudo, amor, partilha, união e força. Os meus pais nunca pensaram que os quatro filhos iriam viver em quatro países diferentes. As viagens de avião, carro e comboio foram e serão muitas. Detalhe insignificante quando queremos estar perto dos que mais contam. Dois genros estrangeiros que receberam de braços abertos e quatro línguas faladas nas reuniões familiares. Os meus pais aceitam tudo! Férias coletivas, natais em Lisboa, Paris, Londres. Ai tempo, volta para trás! Deixa-me abraçar ainda mais forte e durante mais tempo aqueles que me deram a vida. Peço-te coragem para dizer-lhes o quanto gosto deles e como encolhe o meu coração quando sofrem e não estou por perto. A minha mãe, excelente contadora de histórias, mulher de armas e fonte de amor e tolerância conseguiu uma proeza: a cumplicidade entre os filhos. Parece simples, mas nem sempre acontece. A distância não consegue afastar-nos porque nós somos mais resilientes. O meu filho disse-me, um dia, que o melhor presente que eu e o pai lhe oferecemos foi a irmã. Quando ouvi esta frase senti que parte do meu dever de mãe estava cumprido. Mas o caminho é interminável e os desafios são bastantes. Enquanto há vida, há família. E eu não trocaria a minha nem por um 1.000.000.000.000……..
Pai, mãe, filho Avô, avó, primo Tio, tia, cunhado O importante é ser amado A dois, a três A cinco ou a dez Família tradicional ou recomposta O que importa? Todos cabem no nosso coração Família é amor, partilha e união Alegrias, tristezas Dúvidas, certezas Dar e receber Família é viver!
Morre de sofrimento esta família que se esconde por detrás dessa janela, igual a tantas outras. Outrora alegre, esta casa está triste e melancólica, afogada nas memórias do passado. Não é azul, mas sim preta a cor que a rodeia. O vaso está quebrado, as flores murcharam e o olhar do gato ficou transparente, insípido. As cortinas sujas e comidas pelo sol contam histórias a quem tiver coragem para as escutar. Passaram-se seis anos desde que essa alma partiu e a vila inteira foi invadida de rancor e sofrimento. Longe vão os tempos em que se ouvia música e se dançava até de madrugada. Nessa altura, as flores cresciam suavamente, embaladas pela doçura do riacho. Os sonhos tinham asas e as alegrias não conheciam limites. Mas ficaram para sempre os sentimentos que deslizam ao som da melodia das cotovias.