Boa noite

Para ti que terminas agora o trabalho
Boa noite
Para ti que sofres de insónia
Boa noite
Para ti que tens saudades do Verão
Boa noite
Para ti que tens medo do escuro
Boa noite
Para ti que sonhas com a chuva a cair
Boa noite
Para ti que guardas a esperança
Boa noite
Para ti que gostas tanto de dormir
Boa noite
Para ti que sabes que vai correr tudo bem
Boa noite
Para ti que anseias pelo amanhã
Boa noite.

Filipa Moreira da Cruz

Photos : Filipa Moreira da Cruz

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Tristeza

Primeiro me acabou o riso, depois os sonhos, por fim, as palavras. É essa a ordem da tristeza.

Mia Couto

O riso veste a alma com as cores do arco-íris
Os sonhos dão-nos asas
Sem eles, apenas existimos
As palavras são a voz do que nos vai no coração
Mas então, temos o direito de estar tristes?
Claro! E lá, a razão sobrepõe-se à emoção
Às vezes a alma tem de ser limpa
Para isso servem as lágrimas
As asas podem quebrar
Os sonhos dissipam-se no ar
E quando ficamos mudos
Sem palavra para tudo?
O importante é que a tristeza
Não seja eterna
E que possamos ver no sol de Inverno
A alegria da Primavera.

Filipa Moreira da Cruz

Photo : Paul Laurent Bressin

Ares de Primavera

Reprise

Pelo caminho não estou sozinho
Vejo flores de todas as cores
Na relva, no chão, no parapeito
E até mesmo no empedrado desfeito
Já chegou a Primavera?
Quem me dera!

Filipa Moreira da Cruz

Photos : Filipa Moreira da Cruz

Manhã de Inverno

Reprise

Photo : Paul Laurent Bressin

Beijo fugaz num banco do jardim
Frio glacial que se apodera de mim
Uma criança brinca e sorri
Sabe que a vida é agora e aqui
Neste minuto, neste instante
Uma valsa efémera e estonteante
Deixamos de ser dois, somos apenas um
Dançamos neste mundo igual a mais nenhum
Esquecemos o Inverno e as feridas
Curamos as mãos doridas
Levantamos voo, bem alto
Viajamos no tempo sem sobressalto
Desviamos o olhar do horizonte sem fim
Queremos ficar para sempre no banco do jardim.

Filipa Moreira da Cruz

Paris, mon amour

Reprise

Cidade luz, capital do amor e do sublime
Nem sei por onde começar porque não quero que termine
Foste casa, brindaste-me com amigos
Ah e viste nascer os meus filhos!
Sempre que penso em ti fico desamparada
Este namoro dura há anos e eu sem ti sou quase nada.

Filipa Moreira da Cruz

Photos : Filipa Moreira da Cruz

Manto branco

Reprise

Um fino véu branco cobriu o mundo
Enquanto dormiamos um sono profundo
Ruas, vilas, prédios, objetos, casas
Planícies, montanhas, rios, estradas
Todas as outras cores são uma ilusão
Existem apenas na nossa imaginação
Branca é a vida e a esperança
De branca se veste a confiança
Num planeta mais humano
Onde o divino beija o profano
Brancas são também as questões
Fruto das nossas constantes reflexões
E brancas serão talvez as propostas
Se não nos empenharmos em encontrar respostas.

Filipa Moreira da Cruz

Photos : Filipa Moreira da Cruz, KaDDD e Paul Laurent Bressin

Inverno que parece Outono

Photo : Filipa Moreira da Cruz

Caminhamos descalços e de mãos entrelaçadas
Num ritmo lento e desenfadado
Marcamos passo nesse chão suave
Sob um manto de folhas secas

Sem pressa, desacelaramos o tempo
E pedimos ao coração que abrande
Mais um sorriso, um beijo, um abraço
Uma carícia, um aconchego, um olhar

E o silêncio
Profundo e inquietante
Atormenta os que não sabem escutar
O mar, as núvens, a terra e as folhas secas.

Filipa Moreira da Cruz

Conto de Inverno

Photo : KaDDD

Brisa gélida matinal
Que martiriza o corpo inteiro
Mas aquece o coração
Dos que sentem um amor verdadeiro

Fecho os olhos e invento
Um conto íntimo e pessoal
A chuva, a tempestade… o mau tempo
Longe da alma, mas tão real

Passeamos de mãos dadas pela avenida
Repleta de árvores despidas de folhas
Deslizamos pelo manto que cuida das feridas
E alimenta sentimentos de coisas tão boas

Uma taça de chá, um chocolate quente
Um café acabado de fazer
A felicidade é crescente
Ao ritmo da neve que cai suavemente

Frio? Nem diria que o inverno já chegou!
Contigo só sinto cumplicidade e alegria
O mundo à nossa volta é feito de ninharia
E o resto, antes de começar, já terminou.

Filipa Moreira da Cruz

Neve em Saint-Malo

Reprise

Saint-Malo vestiu-se de branco
E recebeu-nos envolta no seu manto
Coisa rara numa cidade que, por uma vez
Não vive ao ritmo das marés
Prefiro o sol, o calor e o mar
Mas fazer o quê? Aproveitar!

Filipa Moreira da Cruz

Photos : Filipa Moreira da Cruz

Janeiro

Janeiro chegou
Áspero
Austero
Agridoce
Altivo
Janeiro instalou-se
Malancólico
Bucólico
Simbólico
Diabólico
Janeiro permanece
Preguiçoso
Doloroso
Chuvoso
Nervoso.

Filipa Moreira da Cruz

Photos : Filipa Moreira da Cruz