Do cimo do farol sinto o mundo como mais ninguém Vejo o nascer do sol e quando ele se deita também Observo o arco-íris e as nuvens que dançam no céu Sinto a maresia e agarro este vento só meu Fecho os olhos e oiço as ondas do mar A maré sobe e sinto-me a naufragar Os pássaros trazem-me notícias do outro lado do mundo Peço-lhes que me concedam mais um segundo Um instante basta para que a areia volte a ficar seca Quanto ao resto… pouco ou nada interessa!
Quanto tempo tenho para percorrer o mundo? Quanto tempo tenho para fazer o correto? Quanto tempo tenho para enganar um segundo? Quanto tempo tenho para ficar por perto? Quanto tempo tenho para seguir o meu caminho? Quanto tempo tenho para estar com as pessoas que me são queridas? Quanto tempo tenho para ficar sozinho? Quanto tempo tenho para sarar as feridas? Quanto tempo tenho para agarrar a felicidade? Quanto tempo tenho para gozar da liberdade? Quanto tempo vai durar a saudade?
Vou à minha vidinha Sem incomodar Faço o meu trabalho Sem nada perguntar Acordo cedo Para a casa arrumar Deito-me tarde Sem descansar Triste fado! Está na hora De tudo mudar Dar o grito do Ipiranga E fazer O que me dá na real gana.
Criança, menina, garota Jovem, moça ou já mulher Roliça, esguia, pequenina, franzina Delgada, alta ou o que se quiser Aventureira, casadoira, conservadora ou ousada Solitária ou sempre bem acompanhada Sou o que decido e escolho o que quero ser! Não importa o que fiz nem o que tenho Abraço o presente sem me esquecer de viver!
A Natureza está louca Virada de pernas para o ar Os animais estão à solta A rir, a correr, a brincar No parque ou no jardim Até os pinguins fugiram do frio Parecem estátuas a olhar para mim Pensando que o mar é rio O urso não baixa a guarda, vigia O coelho esconde-se do leopardo O burro cuida da sua cria E o puma corre como um desalmado A Natureza comanda Os animais obedecem Entram felizes na dança Que os humanos desconhecem.
Já passou um mês e parece que foi ontem. Só passou um mês, mas parece uma eternidade.
Nunca gostei do Inverno e a mãe sabe que, para mim, Janeiro sempre foi longo, frio e enfadonho. Os membros da nossa família marcam (quase) sempre encontro com a morte depois do Natal e a mãe não foi excepção. O seu espírito decidiu dar o grande passo para pôr de folga (finalmente!) o corpo massacrado. Tinha chegado a hora. A mãe estava pronta, mas eu não. Nunca estarei. E não sou a única.
O Stan fez 14 anos na quinta-feira passada e estava triste porque foi a primeira vez que celebrou esta data sem a sua companhia. Lembra-se dos parabéns cantados em Lisboa, Porto, Tomar, Viana do Castelo, Veneza, Londres, Paris, Lanzarote e Fuerteventura? A mãe esteve sempre presente. Com frio, chuva, calor e sol.
Sei que finalmente encontrou a paz para lá do mundo terrestre, mas as saudades que tenho suas são infinitas. A vida é uma viagem e a sua foi rica em aventuras, descobertas, cumplicidades, afectos e harmonia. Sei porque a mãe disse-me isso várias vezes.
E por falar em viagens fizemos a primeira a Londres quando eu tinha 12 anos. Aos 14 anos levou-me a Nova Iorque. E foi nessa altura que prometemos que faríamos uma viagem juntas todos os anos. Cumprimos a promessa até ao ano passado. Visitámos mais de 20 países europeus, atravessámos tantas vezes o Atlântico para explorar as Américas. Partilhámos confidências, angústias, gargalhadas e lágrimas.
Por causa de si somos 4 irmãos em Lisboa, Saint-Malo, Verona e Londres juntos na dor. Graças a si somos 4 irmãos unidos para toda a vida. Por si desfrutamos de cada momento como se fosse o último.
Menina roliça e bonita Apressada e catita Que passa pela minha rua Sou meu, és tua Espedita e risonha Sou teu, és minha Ai um dia, vou ter coragem E deixarás de ser apenas uma miragem Vou contar-te o que guardo no coração Através de um poema ou de uma canção Juntos daremos a volta ao mundo A vida muda num segundo.
Não há bela sem senão Não há alma sem coração Não há rosa sem espinhos Não há metas sem caminhos Não há mar sem ondas Não há praia sem conchas Não há recompensa sem esforço Não há festa sem alvoroço Não há Outono sem chuva Não há presença como a tua Não há Verão sem calor Não há paz sem amor Não há queijo sem marmelada Não há tudo sem nada Não há doce sem abóbora Não há dentro sem fora Não há música sem instrumentos Não há esperança sem sentimentos Não há poetas sem tristeza Não há terra sem beleza Não há universo sem mundos alheios Não há Humanidade sem devaneios.
Durante vários séculos, a população trocou o campo pela cidade em busca de melhores condições de vida. Quando a terra deixava de ser fértil, voltavam-se as costas ao verde e abraçava-se o cinzento da metrópole. A tecnologia e a indústria prometiam sucesso e prosperidade. Mas nem todos se deixaram seduzir pela vida urbana e há quem não troque a paz e o sossego do campo pelo bulício da cidade.
Sou uma citadina convicta e assumida. Gosto de cidades grandes. Sinto-me bem em Nova Iorque, Paris, Londres ou Berlim. Aprecio andar de metro, visitar museus, ler nos parques, percorrer largas avenidas. No entanto, fiquei feliz por ter passado os três confinamentos na cidade onde vivo que tem apenas 50.000 habitantes. Entendo o sufoco e a ansiedade dos que ficaram encurralados entre quatro paredes porque sei o que é viver num apartamento de 45 metros quadrados. Quando somos obrigados a partilhar, 24 horas por dia, um espaço tão exíguo, o charme da cidade desaparece, mesmo que tenhamos a sorte (como eu tive!) de viver a dois passos do Arco do Triunfo.
Desde o início da pandemia, 800.000 pessoas saíram de Paris e arredores e muitos ainda não regressaram à capital francesa. Instalaram-se em cidades mais pequenas, vilas e aldeias. Ou até mesmo em casas no meio do nada. Longe do ruído e da poluição. Situação semelhante ocorreu em Londres. No ano passado, 300.000 cidadãos abandonaram a capital inglesa e a procura de casas no campo aumentou 126%.
Photo : Filipa Moreira da Cruz
Muitas profissões podem ser exercidas à distância e o número de nómadas digitais tem aumentado exponencialmente. Nunca foi tão fácil trabalhar em frente ao mar ou à sombra de uma bananeira. Basta um computador e ligação à Internet! Que o digam Bali, Malta ou as ilhas Canárias. Portugal também faz parte dos destinos mais cobiçados. As empresas foram obrigadas a adaptar-se, rapidamente, à nova realidade e as capitais dos países mais desenvolvidos perderam centenas de habitantes.
Ainda é comum, entre as grandes empresas, enviar os seus quadros superiores a países distantes. Britânicos invadem Hong Kong, franceses apoderam-se do sudeste asiático, portugueses reconquistam o Brasil ou Angola. A aproximação das antigas colónias é algo natural. Os colarinhos brancos europeus (ou americanos) recebem salários chorudos, vivem em casas faustosas e as crianças frequentam colégios privados pagos a peso de ouro.
Photo : Paul Laurent Bressin
Mas este fenómeno pode estar em vias de extinção. Os nómadas digitais estão a revolucionar a realidade laboral. Instalam-se no campo ou na praia e vivem quase como os locais. Entre relatórios e reuniões à distância ainda há tempo para um mergulho no mar, uma sesta ou uma cerveja bem fresca. Relatos contados na primeira pessoa por aqueles que conheço que trocaram o céu cinzento de Paris e de Milão por uma ilha das Canárias onde já vivi e outras duas que conheço bem.
Mas nem tudo são rosas! Os nómadas digitais trazem alguns dissabores. O poder de compra destes trabalhadores estrangeiros é, muitas vezes, superior ao da população dos países que lhes estendem a passadeira vermelha e os recebem de braços abertos. Por um lado, os preços disparam. Para os locais, alugar ou comprar casa torna-se um pesadelo. Encher o carrinho das compras sai mais caro e os restaurantes passam a piscar o olho aos estrangeiros endinheirados. Por outro lado, a tão prezada tranquilidade tem os dias contados. O êxodo urbano mata o silêncio do campo e polui a praia mais paradisíaca.