Loucos são aqueles que ousam ser felizes E pintam o dia com diferentes matizes Fazem as pazes com o medo A vida é um maravilhoso segredo Prestes a ser desvendado Esse tesouro tão bem aguardado Cabe na mão, no peito Embora de infinito seja feito Loucos são aqueles que buscam a verdade Em nome da tal liberdade Perseguem sonhos E falam baixinho com anjinhos Acreditam em fadas E partilham histórias inventadas Guiam-nos por labirintos Dispersos em vários recintos Louca serei eu também Por confiar de olhos fechados na minha mãe Um amor ímpar e verdadeiro Será sempre o primeiro A nascer, a crescer, a voar Libertando-se do céu e do mar Uma estrela que brilha no firmamento Solta, num total desprendimento.
A maioria das minhas amigas não tem filhos. Nem todas por opção. Mas isso não significa que não gostem de crianças, antes pelo contrário. Perguntam-lhes frequentemente se ainda pretendem ser mãe. As respostas são variadas e algumas até originais: não pensei nisso, não tenho tempo, qualquer dia destes, quando puder, falta-me encontrar a pessoa certa… Houve até quem dissesse NUNCA! E a conversa ficou arrumada para sempre.
O mais curioso é que esta questão cansativa, de tantas vezes repetida, nunca se coloca aos homens. O sexo masculino pode ser progenitor enquanto a pujança ou o Viagra o permitirem. E já quase ninguém estranha ver um pai que tem idade para ser avô! Os relógios biológicos não seguem as mesmas leis. Homens e mulheres dançam uma música a ritmos descompassados. Por outro lado, se um homem não for pai não estranhamos. Qual é o problema?
Admito que já não imagino a minha vida sem os meus filhos. O nascimento de uma criança implica mudar (quase) tudo. De repente, as prioridades são outras. O bebé é tão pequenino, mas ocupa o espaço todo. Isso não é mau, obviamente! Mas nem todas estamos preparadas para esta reviravolta e entendo, cada vez mais, as mulheres que decidem não ter filhos. Não me sentiria incompleta se não tivesse sido mãe.
E o instinto maternal? Sinceramente, creio que a maternidade tem muito pouco de instintivo até porque não somos animais. Nenhuma mulher nasce mãe. É na língua francesa que encontro a expressão com a qual me identifico: on devient mère. São os filhos que nos transformam, ensinam, motivam. Aprendemos a ser mães com eles. E temos o direito de errar porque somos perfeitamente imperfeitas. Não aspiramos ao estereótipo de super mulheres, embora a sociedade insista no contrário. Não temos que ser as melhores cozinheiras, as mais prezadas esposas e as irrepreensíveis fadas do lar. A nossa missão não é criar seres excecionais, mas sim respeitar cada um deles. Também não nos compete a nós evitar as caídas dos nossos filhos. Devemos ser guias e não chefes. Fazemos o melhor que podemos e sabemos. Sempre.
Longe vão os tempos em que cada família tinha uma tia solteirona, frustrada e azeda. As mulheres do segundo milénio têm o direito de ser solteiras, casadas, divorciadas, com seis filhos ou nenhum. Sabem que prazer não tem que rimar com procriação. Foram necessários longos séculos para que o sexo feminino se assumisse naturalmente, sem ter que pedir licença ou justificar-se. No entanto, em muitos países, o caminho ainda é árduo e com espinhos.
Defendo o direito de expressão e a liberdade de escolha. E isto não significa apenas darmos a nossa opinião. Podemos expressar-nos das mais variadas maneiras. Certos atos são mais reivindicativos que palavras. À Gabrielle Chanel bastou-lhe renunciar ao corset. Vestir uma saia ou um par de calças, usar camisa e gravata, pintar os lábios de vermelho. A mulher é a única capaz de saber o que é melhor para ela e recorre a todos os subterfúgios para tal. E se as suas escolhas não forem as mais corretas ela não deverá culpar ninguém. Errar é aprender. E aprender é viver. A vitimização é inimiga da emancipação.
Filha, irmã, amiga, prima, sobrinha, neta. Mulher, amante, companheira, confidente. Somos únicas e inteiras com ou sem descendência. Para todos os feitios e gostos. E para que o futuro se escreva de todas as cores.
Mãe alheia, mãe ausente Mãe amiga, sempre presente
Mãe cansada, mãe distante Mãe frustrada e hesitante
Mãe espancada, abandonada Mãe forte e recuperada
Mãe adúltera e egoísta Mãe enganada, mas pacifista
Mãe flor, mãe fruto, mãe oceano Mãe sem pudor que deixa a nódoa cair no pano
Mãe afetos, amor e coração Mãe calculista e só razão
Mãe jovem, quase irmã Mãe madura, mas tão sã
Mãe diplomada e estudiosa Mãe dona da casa e laboriosa
Cada mãe é única e especial Devendo sentir-se cada dia como tal.
Dedico este poema a todas as mães e, em especial, à minha. Ficou órfã aos 15 anos, passou por quatro cesarianas com anestesia geral (e quase perdeu a vida numa delas), venceu dois cancros e uma Covid severa. Está a tratar-se de um cancro que já se instalou no fígado e nos pulmões. Quatro filhos em quatro países. Longe da vista, mas sempre perto do coração. Fonte inesgotável de amor, serenidade, otimismo, paz, reconforto e compreensão. O meu porto-seguro. A minha mãe.
Querida mãe, Enviou-me esta fotografia da terra que a acolheu E eu recebo-a com o carinho que sempre me deu Estes versos são insignificantes Mas sabe que o amor, esse, é eterno e constante Regado diariamente com alegria e resiliência Alheio a futilidades e prepotência O castelo vigia, do alto da colina A cidade que é sua e quase minha E a adorada calçada portuguesa Tão nossa e cheia de beleza Traz-me de volta a casa Sou afortunada! A água do Nabão corre sem pudor Dizendo-nos « seja o que for » As saudades, companheiras eternas São dolorosas e, ao mesmo tempo, fraternas Dão-me força e esperança Vivamos o agora sem medo da mudança.
M ãe carinhosa e presente A vó amada R iso solto e contagiante G ratidão, sou abençoada! A legria de viver a deste ser humano especial R etribui em triplo o que recebe I rreverente e original D á o que tem e ainda agradece A mor incondicional.
A minha irmã avisou-me e eu pensei estar preparada. Enganei-me. E o choque foi imenso quando vi a minha mãe (ainda jovem e cheia de vida) tão magra e debilitada, deitada na cama do hospital. Parecia uma boneca de porcelana, com a tez esbranquiçada e o corpo mirrado. Ou um copo de cristal que, só de olharmos, temos medo de quebrar em mil pedaços.
Hospitais já esteve em três: o de Tomar, o de Abrantes e o de Torres Novas, onde a fui visitar. Aproveito, em seu nome, para agradecer às equipas de médicos, enfermeiros e auxiliares de saúde pelo esforço, carinho e dedicação, principalmente deste último que conhece melhor. A minha mãe não podia estar em melhores mãos. Confessou-me que só por isso já valeu a pena ter saído de Lisboa, cidade onde viveu até aos 62 anos. No IPO o tratamento é outro, não por falta de vontade (antes pelo contrário!), mas por escassez de meios e excesso de doentes.
Nas fotografias parece composta e mostra sempre um sorriso. Faz um esforço descomunal para fingir que está tudo bem. Os que a conhecemos bem, sabemos que é forte e resiliente. Encara as adversidades sem rodeios. Mas desta vez, é mais grave. Os dois cancros anteriores são uma brincadeira comparados com o que lhe caiu em cima.
As constantes precauções não conseguiram evitar que fosse infetada com a Covid e, como não melhorava, acabou por ser hospitalizada durante três semanas. Os médicos dizem que, por um lado, o vírus acelerou a doença e, por outro, permitiu descobrir as inúmeras metastáses espalhadas pelo corpo.
Photo : KaDDD
Esta « doença prolongada » que corrói o corpo, esvazia a alma e arrasta toda a família tem um nome feio e múltiplos rostos. Porque não há duas pessoas iguais. O cancro aloja-se em qualquer lado e desafia o ser mais perseverante e otimista. Felizmente, muitos são curáveis, mas nem todos têm um final feliz. Quanto aos prognósticos, só mesmo no final do jogo, como dizia o outro. Nenhum médico se atreve a fazer antevisões. Até porque os milagres ocorrem todos os dias.
E o que fazer? Esmorecer até ao derradeiro sopro? Viver em sobressalto com medo do telefonema que nos anuncia o pior? Nem pensar! A única certeza é que só existe o agora, por isso, mais vale aproveitar cada momento, sem dor nem sofrimento. Obviamente, é mais fácil dizer (neste caso, escrever) que fazer. E sei por experiência. Mas quem nos garante que a morte não chega como um raio, disfarçada de um súbito enfarte ou um acidente de carro?
A vida é frágil e efémera. Um dia estamos aqui e no outro… Nascemos e morremos, é uma evidência. Mas isso não significa que tenhamos que contar os segundos para o derradeiro final, mesmo que estejamos num beco sem saída. Os que se apagam devido à tal « doença prolongada » (algo cada vez mais banal) têm o direito de desfrutar do tempo que lhes resta com dignidade.
Para os que acreditam na vida eterna (como a minha mãe), é mais fácil e natural encarar o que se segue. A morte não é um fim, mas o meio para chegar ao outro mundo. O tempo passado na Terra é um breve suspiro, comparado com a Eternidade que nos espera. Oxalá, pudéssemos partir todos em paz.
Adoro viajar! O avião e o comboio são os meus transportes favoritos. E amanhã vou ter uma dose dos dois! Saint-Malo – Rennes – Paris – Lisboa. A expedição vai ser longa, mas quem corre por gosto não se cansa.
Tirei esta fotografia há vários anos, num voo de San Sebastian a Lisboa. Ah, Lisboa… Regresso amanhã sem bagagem, mas com uma mala invisível carregada de amor e esperança. Vou oferecer beijos e abraços à família. O tão ansiado regresso!
Infelizmente, não poderei estar com a minha mãe e isso deixa-me bastante triste, mas sei que é por uma boa razão. O reencontro será ainda mais intenso. E ela está sempre presente no meu pensamento e, até mesmo, nas minhas atitudes. Se fossemos gémeas, não seríamos mais parecidas!
Estarei ausente do blog durante alguns dias porque a prioridade vai ser outra. Vou desfrutar de cada momento passado no meu país. Deixo várias publicações já programadas. Espero que gostem!
Hoje a minha mãe faz anos. 67 invernos, primaveras, verões e outonos. Uma inspiração e fonte de amor e de resiliência. Mulher sábia, assertiva, ponderada e extremamente lúcida. Tanto que, às vezes, assusta! Nem esta maldita doença que lhe voltou a invadir o corpo a derrota. Gosto tanto de si mãe! E peço a Deus que a mantenha neste mundo o tempo que for possível. Sem dor nem sofrimento. Sei que está pronta para a grande viagem, mas eu (ainda) não. Parabéns mãe! E quanto aos muitos anos de vida…que se lixem! Os que já viveu intensamente ninguém lhe tira! Três dos quatro filhos estão aí consigo para celebrar este dia. Falto eu, mas estou quase a chegar.