Amamos as nossas mães quase sem o saber e só nos damos conta da profundidade das raízes desse amor no momento da derradeira separação.
Guy de Maupassant
Photo: Filipa Moreira da Cruz
Querida mãe,
Hoje é o seu dia. Mãe; palavra pequenina, mas do tamanho do mundo. Amor infinito. Vontade incondicional. A mãe deixou-nos (tão!) cedo, no entanto, continua entre nós. Sempre. Guia-me nos momentos mais difíceis, chama-me quando estou perdida, empurra-me para a estrada que não pensaria seguir, obriga-me a sair da minha zona de conforto. Obrigada! Hoje também é o meu dia e o de todas as outras mães. A vida nunca mais volta a ser a mesma depois do nascimento um filho. Ainda bem! Devemos celebrar este milagre diariamente. O Stan e a Mathilde mudaram tanto em pouco tempo. O luto atroz fez-lhes crescer prematuramente. Têm muitas saudades suas. São orfãos de avó. As férias em Portugal não serão as mesmas sem si, mas faremos o melhor possível. Aproveitaremos cada momento como se fosse o último. Feliz dia para todas as mães. As presentes e as que já cá não estão. Um pensamento muito especial para si, querida mãe.
Já passou um mês e parece que foi ontem. Só passou um mês, mas parece uma eternidade.
Nunca gostei do Inverno e a mãe sabe que, para mim, Janeiro sempre foi longo, frio e enfadonho. Os membros da nossa família marcam (quase) sempre encontro com a morte depois do Natal e a mãe não foi excepção. O seu espírito decidiu dar o grande passo para pôr de folga (finalmente!) o corpo massacrado. Tinha chegado a hora. A mãe estava pronta, mas eu não. Nunca estarei. E não sou a única.
O Stan fez 14 anos na quinta-feira passada e estava triste porque foi a primeira vez que celebrou esta data sem a sua companhia. Lembra-se dos parabéns cantados em Lisboa, Porto, Tomar, Viana do Castelo, Veneza, Londres, Paris, Lanzarote e Fuerteventura? A mãe esteve sempre presente. Com frio, chuva, calor e sol.
Sei que finalmente encontrou a paz para lá do mundo terrestre, mas as saudades que tenho suas são infinitas. A vida é uma viagem e a sua foi rica em aventuras, descobertas, cumplicidades, afectos e harmonia. Sei porque a mãe disse-me isso várias vezes.
E por falar em viagens fizemos a primeira a Londres quando eu tinha 12 anos. Aos 14 anos levou-me a Nova Iorque. E foi nessa altura que prometemos que faríamos uma viagem juntas todos os anos. Cumprimos a promessa até ao ano passado. Visitámos mais de 20 países europeus, atravessámos tantas vezes o Atlântico para explorar as Américas. Partilhámos confidências, angústias, gargalhadas e lágrimas.
Por causa de si somos 4 irmãos em Lisboa, Saint-Malo, Verona e Londres juntos na dor. Graças a si somos 4 irmãos unidos para toda a vida. Por si desfrutamos de cada momento como se fosse o último.
O momento que mais temia chegou! A minha mãe partiu esta manhã. Estarei ausente durante uns dias. Até breve!
Dear friends,
My mother’s body passed away this morning. Her soul is already in another dimension. I thought I was prepared. Silly me! I will be away a couple of days. Take care!
Chers amis,
Ma mère est morte ce matin. Je n’arrive pas à écrire autre mot. La mort m’a frappée violemment. Je serai absente quelques jours. À bientôt! Prenez soin de vous.
Queridos amigos,
Mi madre se ha apagado esta mañana. Su cuerpo finalmente trajo paz a su alma. Voy a estar fuera unos días. Hasta pronto!
Querida mãe, Enviou-me esta fotografia da terra que a acolheu E eu recebo-a com o carinho que sempre me deu Estes versos são insignificantes Mas sabe que o amor, esse, é eterno e constante Regado diariamente com alegria e resiliência Alheio a futilidades e prepotência O castelo vigia, do alto da colina A cidade que é sua e quase minha E a adorada calçada portuguesa Tão nossa e cheia de beleza Traz-me de volta a casa Sou afortunada! A água do Nabão corre sem pudor Dizendo-nos « seja o que for » As saudades, companheiras eternas São dolorosas e, ao mesmo tempo, fraternas Dão-me força e esperança Vivamos o agora sem medo da mudança.
M ãe carinhosa e presente A vó amada R iso solto e contagiante G ratidão, sou abençoada! A legria de viver a deste ser humano especial R etribui em triplo o que recebe I rreverente e original D á o que tem e ainda agradece A mor incondicional.
Loucos são aqueles que ousam ser felizes E pintam o dia com diferentes matizes Fazem as pazes com o medo A vida é um maravilhoso segredo Prestes a ser desvendado Esse tesouro tão bem aguardado Cabe na mão, no peito Embora de infinito seja feito Loucos são aqueles que buscam a verdade Em nome da tal liberdade Perseguem sonhos E falam baixinho com anjinhos Acreditam em fadas E partilham histórias inventadas Guiam-nos por labirintos Dispersos em vários recintos Louca serei eu também Por confiar de olhos fechados na minha mãe Um amor ímpar e verdadeiro Será sempre o primeiro A nascer, a crescer, a voar Libertando-se do céu e do mar Uma estrela que brilha no firmamento Solta, num total desprendimento.
A maioria das minhas amigas não tem filhos. Nem todas por opção. Mas isso não significa que não gostem de crianças, antes pelo contrário. Perguntam-lhes frequentemente se ainda pretendem ser mãe. As respostas são variadas e algumas até originais: não pensei nisso, não tenho tempo, qualquer dia destes, quando puder, falta-me encontrar a pessoa certa… Houve até quem dissesse NUNCA! E a conversa ficou arrumada para sempre.
O mais curioso é que esta questão cansativa, de tantas vezes repetida, nunca se coloca aos homens. O sexo masculino pode ser progenitor enquanto a pujança ou o Viagra o permitirem. E já quase ninguém estranha ver um pai que tem idade para ser avô! Os relógios biológicos não seguem as mesmas leis. Homens e mulheres dançam uma música a ritmos descompassados. Por outro lado, se um homem não for pai não estranhamos. Qual é o problema?
Admito que já não imagino a minha vida sem os meus filhos. O nascimento de uma criança implica mudar (quase) tudo. De repente, as prioridades são outras. O bebé é tão pequenino, mas ocupa o espaço todo. Isso não é mau, obviamente! Mas nem todas estamos preparadas para esta reviravolta e entendo, cada vez mais, as mulheres que decidem não ter filhos. Não me sentiria incompleta se não tivesse sido mãe.
E o instinto maternal? Sinceramente, creio que a maternidade tem muito pouco de instintivo até porque não somos animais. Nenhuma mulher nasce mãe. É na língua francesa que encontro a expressão com a qual me identifico: on devient mère. São os filhos que nos transformam, ensinam, motivam. Aprendemos a ser mães com eles. E temos o direito de errar porque somos perfeitamente imperfeitas. Não aspiramos ao estereótipo de super mulheres, embora a sociedade insista no contrário. Não temos que ser as melhores cozinheiras, as mais prezadas esposas e as irrepreensíveis fadas do lar. A nossa missão não é criar seres excecionais, mas sim respeitar cada um deles. Também não nos compete a nós evitar as caídas dos nossos filhos. Devemos ser guias e não chefes. Fazemos o melhor que podemos e sabemos. Sempre.
Longe vão os tempos em que cada família tinha uma tia solteirona, frustrada e azeda. As mulheres do segundo milénio têm o direito de ser solteiras, casadas, divorciadas, com seis filhos ou nenhum. Sabem que prazer não tem que rimar com procriação. Foram necessários longos séculos para que o sexo feminino se assumisse naturalmente, sem ter que pedir licença ou justificar-se. No entanto, em muitos países, o caminho ainda é árduo e com espinhos.
Defendo o direito de expressão e a liberdade de escolha. E isto não significa apenas darmos a nossa opinião. Podemos expressar-nos das mais variadas maneiras. Certos atos são mais reivindicativos que palavras. À Gabrielle Chanel bastou-lhe renunciar ao corset. Vestir uma saia ou um par de calças, usar camisa e gravata, pintar os lábios de vermelho. A mulher é a única capaz de saber o que é melhor para ela e recorre a todos os subterfúgios para tal. E se as suas escolhas não forem as mais corretas ela não deverá culpar ninguém. Errar é aprender. E aprender é viver. A vitimização é inimiga da emancipação.
Filha, irmã, amiga, prima, sobrinha, neta. Mulher, amante, companheira, confidente. Somos únicas e inteiras com ou sem descendência. Para todos os feitios e gostos. E para que o futuro se escreva de todas as cores.