I wish I could turn back time When everything was pretty and simple Stop all the watches of the world I beg you! So I can jump off the train And miss the plane Just to stay with the people That still know my name.
Nasci em Portugal. Vivi vários anos em Espanha e regressei em 2018 a França. Não me peçam para escolher um dos três países. É impossível! Adoro os três e sinto-me em casa em qualquer um deles.
Saúde
Já ouvi muitas vezes dizer que em Portugal há excelentes médicos. É verdade! No entanto, escasseiam recursos humanos, financeiros e técnicos. Não há camas suficientes e os hospitais estão degradados. Somos o único dos 3 países onde existe a taxa moderadora e aquele onde mais escasseiam médicos de família. Espanha também dispões de vários centros de sáude e o acesso é rápido e gratuito. As ilhas Canárias têm hospitais modernos com aprelhos de última geração. Infelizmente, alguns exames não se podem realizar por falta de médicos especialistas. França tem um sistema mais justo e liberal. Não há centros de saúde, podemos escolher o médico que quisermos e somos reembolsados a 100% (entre a segurança social e o seguro de saúde). Quando vivi em Paris tinha direito a dois pares de óculos por ano. Acumulei os modelos mais caros de Dior, Chanel e Prada.
Educação
Em França a educação é obrigatória a partir dos 3 anos e a maioria das escolas são públicas e totalmente grátis (o material é todo fornecido pelas mesmas). O dia começa às 08h30 e termina às 16h30. Em muitas cidades espanholas a escola funciona só de manhã e durante as férias as únicas atividades são privadas e dispendiosas. Ainda assim, é este país que tem o sistema de ensino que mais aprecio: o Amara Berri. Contrariamente a Portugal, os outros dois países optam por um número reduzido de manuais, por isso, o lobby das editoras escolares é quase inexistente.
Cultura
Deve ser de todos e para todos! Em Portugal, o acesso à cultura é ainda elitista e centralizado. Continuamos a ser o país dos festivais, do futebol e das telenovelas. Mas também somos um dos únicos que se recusa a dobrar séries e filmes. Chapeau! Sou contra tudo o que não seja em VO. No que diz respeito à cultura geral os portugueses são de longe os que têm um maior conhecimento da atualidade internacional. Poliglotas por natureza, quase todos falam, pelo menos, uma língua estrangeira. Os espanhóis (com exceção dos bascos e dos catalães) não sentem necessidade de ir além-fronteiras e os franceses são bastante seletivos nos temas de discussão.
Religião
Eis um tema delicado! França é um país laico assumido onde todos acham que sabem tudo das três principais religiões do mundo. A festa de L’ Aïd e o Shabbat são práticas comuns e há mais lojas kasher e hallal que católicos a ir à missa. Nunca discutam com um francês sobre burkka, niqab e afins porque eles têm sempre razão. Penso que os portugueses são os mais inclusivos e tolerantes. Os espanhóis respeitam as outras religiões, mas assumem-se como bons católicos ou não fosse o seu país o berço da opus dei. No país vizinho, quase todas as crianças fazem a primeira comunhão e as crianças aprendem o catecismo nas escolas.
À table!
Mais do que comer aprecio estar à mesa rodeada dos amigos e da família e nos três países estou bem servida. Os franceses consideram a sua gastronomia a melhor do mundo, facto que é discutível. Uma coisa é certa: enquanto na península Ibérica as padarias desapareceram em França são uma instituição. Não sabem o prazer que dá comer pão quente, um croissant ou um pain au chocolat logo de manhã. Em contrapartida, coitados dos que nunca provaram um verdadeiro frango no churrasco ou umas sardinhas assadas com uma salada de pimentos! Estas iguarias que só os portugueses sabem preparar! Os espanhóis são os reis das tapas que no país Basco são mais conhecidas como pintxos. Há para todos os gostos e a qualquer momento do dia. Sou fã! No país vizinho almoços às quatro da tarde e jantares às onze da noite são prato de cada dia.
Money, money, money…
Os portugueses queixam-se que pagam muitos impostos, mas estão muito enganados! Também aqui os franceses são os campeões do mundo e há taxas para tudo. Em Portugal, os salários são escandalosamente baixos, isso sim! Este país tem os preços mais altos na eletricidade, no gás e na gasolina. E o que dizer das portagens?! Nasci em Lisboa, a cidade com o maior índice de especulação imobiliária do momento. A mesma que despeja sem dó nem piedade os inquilinos esquecendo-se que, um dia, a bolha explode. Vivi um ano na terceira cidade mais cara de Espanha e quase oito anos numa das mais caras do planeta. Não exagero quando afirmo que, em Paris, uma família de quatro pessoas necessita, pelo menos, 6.000 euros para viver confortavelmente.
Dia-a-dia
França é o paraíso dos amantes do comércio local e eu faço parte deste, cada vez mais, restrito grupo. Em cada esquina há livrarias, mercados, frutarias, padarias, floristas, peixarias, talhos… Os centros comerciais são bicho raro. Bravo! Não bebo café, mas em Espanha há para todos os gostos: cortado, largo, con leche, nube… Em contrapartida, o chá é de péssima qualidade! Em Portugal também sofro porque se não for a um salão de chá gourmet só me servem saquinhos Lipton. França cuida muito bem dos amantes desta bebida e em qualquer bistrot sabem preparar as folhas na água quase fervida.
Vida social e familiar
Os espanhóis são especialistas em divertir-se com pouco e acreditem que no país vizinho a vida é uma festa! Os franceses são râleurs por natureza e queixam-se constantemente. Não nos esqueçamos que são os reis das greves, mas também conseguiram a revolução de 1789 e o maio de 68. Em Portugal somos bipolares. Por um lado, adoramos deitar abaixo o nosso país, enaltecendo quase tudo o que vem de fora. Por outro lado, não nos imaginamos longe da nossa terrinha e raramente tentamos mudar a situação em que estamos. É comum um jovem francês sair de casa aos 17 ou 18 anos e é ainda mais comum que só telefone à família uma vez por mês. Na península Ibérica ainda é aceitável viver em casa dos pais até quase aos 30 anos, e não apenas por razões económicas. Os franceses são excessivamente formais e ficam quase ofendidos se o bonjour não é seguido de monsieur ou madame. Todos são tratados pelo nome de família e na escola os alunos estão sentados por ordem alfabética de acordo com o apelido. Paradoxalmente, nas relações entre amigos e familiares são mais descontraídos. Os espanhóis são descomplicados e raramente usam o Usted (equivalente ao « você »em português). Ainda me lembro quando o subdiretor de um grande hotel de 5 estrelas me disse « tratame por tú que estamos en España ». Em Portugal mantemos uma mentalidade provinciana e elitista. Somos o país dos doutores e engenheiros, das Suas Excelências e das tias.
Clima
Portugal é abençoado com o maior número de horas de sol e longos verões. Melhor que nós, só mesmos as ilhas Canárias! Ainda assim, passo mais frio em Portugal que em qualquer outra cidade porque as paredes das casas parecem de papelão e os locais públicos não estão aquecidos.
Não há países perfeitos e a minha casa é mesmo onde o meu coracao está mais tranquilo. Sou nómada por escolha e vocação e compreendo Picasso que sentiu necessidade de sair de Málaga para encontrar-se, Hemingway que viveu em Paris, mas foi realmente feliz em Espanha ou Saramago que se apaixonou por Pilar, amou Lanzarote, mas nunca deixou de ser português!
Desta vez, nem tive tempo de abraçar a minha Lisboa. Acabada de aterrar, fui para Tomar, a cidade que os meus pais escolheram para viver depois de mais de 60 anos na capital. O calor abrasador baralhou-me o discurso. Nem para falar tinha energia. Já não me lembrava do que eram 42°C à sombra! A terra dos Templários está ainda mais bonita e misteriosa. Do alto da colina, o Convento de Cristo vigia a cidade. Imponente. Com a cabeça no azul do céu e os pés firmes na calçada, tão portuguesa, andar torna-se uma missão quase impossível, tal é o calor. Na praça principal não há viv’alma. Apenas alguns turistas em busca de uma sombra. O Nabão segue o seu curso, refrescando-me os pensamentos. No sítio do costume, os dois Fernandos dão dois dedos de conversa. Que dirá o compositor ao amigo poeta? Nem as moscas devem saber!
Dizem que tempo é dinheiro, mas eu não trocaria nenhuma fortuna pelo tempo que já tive. Tempo é vida! Cheguei a tempo ao comboio e ao avião. Tive tempo para ir ao hospital e de acompanhar a minha mãe no regresso a casa. Houve tempo para rir e para chorar. Tempo para falar de futilidades e de coisas sérias. Tempo para matar as saudades e dar de comer à solidão. Tempo para abraços e beijos. Gostaria de ter tido ainda mais tempo, mas deste bem precioso não devemos abusar. Tempo não sobra nem nunca é demais. Tempo é empréstimo para a eternidade. O que farão os ricos com tanto dinheiro e sem tempo para o gastar?
Há mudanças que são um bico de obra Cada situação é um pau de dois bicos Conseguir o que se quer nem sempre é pêra doce Certas pessoas contam histórias do tempo da Maria Cachucha Umas acreditam, outras torcem o nariz A maioria não me chega aos calcanhares Se pensas que fazes melhor, tira o cavalinho da chuva Pouco importa! Perdido por cem, perdido por mil Por muito que te esforces ficas a ver navios E arranjas desculpas do arco da velha Quase todos sonham em viver à grande e à francesa Mas é tão complicado como procurar uma agulha num palheiro Se ficarmos à sombra da bananeira Obviamente que daremos com o nariz na porta De nada adianta ter uma memória de elefante Se a cabeça está (sempre) na lua Quantas vezes meti a pata na poça? Safo-me à résvés Campo de Ourique Talvez esses dias tenham as favas contadas E tudo por estar a pensar na morte da bezerra Ele há coisas do arco da velha! Alguns nascem com o rabo virado para a lua Outros engolem sapos E têm que dar muita graxa O melhor é mesmo saber dar o braço a torcer Fica tudo em águas de bacalhau Porque senão, chega a dor de cotovelo Tentamos por paninhos quentes Puxar a brasa à nossa sardinha E achamos que fica tudo ouro sobre azul Mas a mostarda já chegou ao nariz Resultado: fica o caldo entornado!
Livre sou de transformar, de brincar De pensar, de sonhar, de criar, de aceitar De escrever, de ler, de viver, de sofrer Livres somos de beijar, de votar, de amar De estudar, de opinar, de errar, de abraçar De oferecer, de receber, de poder, de ver Livre serei de decidir, de cair, de fugir De rir, de infringir, de resistir, de partir De permitir, de dicidir, de resistir, de ir Livres seremos de querer, de ser, de debater De aprender, de crescer, de correr, de escolher De sentir, de incluir, de insistir, de fingir Liberdade somos todos nós Liberdade tem corpo e voz Liberdade… ontem, hoje, amanhã Liberdade amiga, confidente, irmã Liberdade presente Liberdade… sempre!