Feliz dia da mãe

Amamos as nossas mães quase sem o saber e só nos damos conta da profundidade das raízes desse amor no momento da derradeira separação.

Guy de Maupassant
Photo: Filipa Moreira da Cruz

Querida mãe,

Hoje é o seu dia. Mãe; palavra pequenina, mas do tamanho do mundo. Amor infinito. Vontade incondicional.
A mãe deixou-nos (tão!) cedo, no entanto, continua entre nós. Sempre. Guia-me nos momentos mais difíceis, chama-me quando estou perdida, empurra-me para a estrada que não pensaria seguir, obriga-me a sair da minha zona de conforto. Obrigada!
Hoje também é o meu dia e o de todas as outras mães. A vida nunca mais volta a ser a mesma depois do nascimento um filho. Ainda bem! Devemos celebrar este milagre diariamente.
O Stan e a Mathilde mudaram tanto em pouco tempo. O luto atroz fez-lhes crescer prematuramente. Têm muitas saudades suas. São orfãos de avó. As férias em Portugal não serão as mesmas sem si, mas faremos o melhor possível. Aproveitaremos cada momento como se fosse o último.
Feliz dia para todas as mães. As presentes e as que já cá não estão. Um pensamento muito especial para si, querida mãe.

Filipa Moreira da Cruz

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Senhor tempo

Reprise

Quanto tempo tenho para percorrer o mundo?
Quanto tempo tenho para fazer o correto?
Quanto tempo tenho para enganar um segundo?
Quanto tempo tenho para ficar por perto?
Quanto tempo tenho para seguir o meu caminho?
Quanto tempo tenho para estar com as pessoas que me são queridas?
Quanto tempo tenho para ficar sozinho?
Quanto tempo tenho para sarar as feridas?
Quanto tempo tenho para agarrar a felicidade?
Quanto tempo tenho para gozar da liberdade?
Quanto tempo vai durar a saudade?

Filipa Moreira da Cruz

Photos : Filipa Moreira da Cruz

Saudades (two months already!)

Photo : Filipa Moreira da Cruz

Time goes by
But the pain remains
Sticky and silent
I’m drowning with my own tears
Hopeless.

Filipa Moreira da Cruz

Lisboa adormecida

Lisboa amada
Lisboa amiga
Lisboa distante
Mas nunca esquecida

Lisboa adorada
Lisboa especial
Lisboa mágica
Lisboa acordada

Lisboa ausente
Lisboa única
Lisboa presente
Lisboa adormecida.

Filipa Moreira da Cruz

Photos : Filipa Moreira da Cruz

Saudades

Photo : Filipa Moreira da Cruz

Querida mãe,

Já passou um mês e parece que foi ontem. Só passou um mês, mas parece uma eternidade.

Nunca gostei do Inverno e a mãe sabe que, para mim, Janeiro sempre foi longo, frio e enfadonho. Os membros da nossa família marcam (quase) sempre encontro com a morte depois do Natal e a mãe não foi excepção. O seu espírito decidiu dar o grande passo para pôr de folga (finalmente!) o corpo massacrado. Tinha chegado a hora. A mãe estava pronta, mas eu não. Nunca estarei. E não sou a única.

O Stan fez 14 anos na quinta-feira passada e estava triste porque foi a primeira vez que celebrou esta data sem a sua companhia. Lembra-se dos parabéns cantados em Lisboa, Porto, Tomar, Viana do Castelo, Veneza, Londres, Paris, Lanzarote e Fuerteventura? A mãe esteve sempre presente. Com frio, chuva, calor e sol.

Sei que finalmente encontrou a paz para lá do mundo terrestre, mas as saudades que tenho suas são infinitas. A vida é uma viagem e a sua foi rica em aventuras, descobertas, cumplicidades, afectos e harmonia. Sei porque a mãe disse-me isso várias vezes.

E por falar em viagens fizemos a primeira a Londres quando eu tinha 12 anos. Aos 14 anos levou-me a Nova Iorque. E foi nessa altura que prometemos que faríamos uma viagem juntas todos os anos. Cumprimos a promessa até ao ano passado. Visitámos mais de 20 países europeus, atravessámos tantas vezes o Atlântico para explorar as Américas. Partilhámos confidências, angústias, gargalhadas e lágrimas.

Por causa de si somos 4 irmãos em Lisboa, Saint-Malo, Verona e Londres juntos na dor. Graças a si somos 4 irmãos unidos para toda a vida. Por si desfrutamos de cada momento como se fosse o último.

Gosto muito de si mãe. E mais ainda.

Filipa Moreira da Cruz

Étern’elle mère

Photo : Filipa Moreira da Cruz

Une seconde
Une minute
Une heure
Un dernier tour du monde
Un changement d’attitude
Une autre couleur
Si seulement on avait encore le temps
Pour les mots et surtout pour le silence
Si seulement tu étais éternelle
Ma plus belle fleur des maternelles
Je te pleurs la nuit
Je te plains le jour
Pour moi, tu n’es pas partie
Tu resteras ici toujours.

Filipa Moreira da Cruz

Quem somos?

Photo : Filipa Moreira da Cruz

Quem somos
Células, partículas, pó?
Quem somos
Apenas sofrimento e dó?
Quem somos
Otimismo e alegria?
Quem somos
Procissão e romaria?
Quem somos
Fome de reconhecimento?
Quem somos
Sede de crescimento?
Quem somos
Fruto verde da saudade?
Quem somos
Mentira ou verdade?
Quem somos
Esse triste fado?
Quem somos
Um sonho equivocado?
Quem somos
Uma realidade traiçoeira?
Quem somos
Apenas erros e asneira?
Quem somos
Um segundo, um minuto, uma hora?
Quem somos
Aqui e agora?

Filipa Moreira da Cruz

Sorrir… sempre!

Photo : Filipa Moreira da Cruz

Encontrei numa estante um caderno com anotações da minha mãe. O tal caderno, elaborado com papel reciclado, foi comprado em Itália e tem uma capa ilustrada com desenhos muito bonitos. Flores em tons de rosa, azul, verde e violeta. A caligrafia redonda e harmoniosa da minha mãe (antiga professora do Ensino Básico) devolve-me a paz.
Não é fácil aceitar que o ser humano que me deu a vida está agora mirrado e deitado numa cama de hospital como se fosse um legume negligenciado numa prateleira de um supermercado.
2023 chega com um sabor agridoce e antecipo a explosão dessa dor profunda que nasceu no dia em que ouvi a fatídica notícia. Merda de doença esta que destrói não apenas o corpo que a transporta, mas também o espírito e todos os outros que o rodeiam.
O meu presente de Natal foi a viagem a Portugal dos meus filhos. Estão longe dos pais, mas a aproveitar cada momento com a família portuguesa. Os netos têm uma relação muito especial com a avó materna. E não poderia ser de outra maneira! Não é por nada, mas calhou-me a melhor mãe do Universo. Sou abençoada!
Peço desculpa, mas desta vez, as palavras chegaram atabalhoadas e sem harmonia. Demasiada emoção!

Seguem as frases anotadas no caderno:

Rir é o fogo-de-artifício da alma.

Arruma os teus problemas no teu saco de viagem e sorri, sorri, sorri.

Não existe uma única prova a favor da ideia de que a vida é séria.

Se estás todo embrulhado em ti próprio é porque estás demasiado vestido.

Caderno da minha mãe

Filipa Moreira da Cruz

Ode to my Mother

Reprise

You are the roots of the most beautiful tree
The branches and the fallen leaves too
Your inconditional love
Heals our deepest wounds
And your long arms
Wrap us in an endless hug
Beyond distance and time
You go through harsh winters
Always with a smile
And hot summers
Are way less brighter
Than your inner light
That keeps shining
No matter what.

Filipa Moreira da Cruz

Photos : Filipa Moreira da Cruz

Time is rushing me

I remember so well my childhood
Good old times!
Now my children are the ones that shrive me
I remember when life was made of endless Summer days
Although I’ve always preferred Autumn evenings
I remember playing with my brother and sisters
Monopoly would last all night long
It’s still the case
Certain things will never change
I remember when my skin was firm and my body flexible
My smile is not gone but my face is slightly wrinkled
And my brown hair is smoothly turning to gray
Here and there
I don’t mind aging
I wouldn’t change 45 for 22
Every birthday should be celebrated
Because we are alive
I just feel that time keeps rushing me
And there’s nothing I can do to slow it down.

Filipa Moreira da Cruz

Photos : Filipa Moreira da Cruz