Um sopro Sem fôlego Uma vontade Partilhada Um desejo Reprimido Uma aventura Inacabada Um sonho Impossível Um passeio Sem rumo Um mundo Em guerra Uma casa Sem paz Um minuto Sem segundo Uma vida A minha? A tua? Tanto faz!
Perdi-me nos teus olhos Azuis como o oceano Intensamente límpidos O divino toca o profano Fui apanhada de surpresa Pela tempestade Que chegou com pressa De contar toda a verdade Engolida pelo mar Varrida pelo vento Sufoquei Fiquei sem ar Caí na armadilha do tempo.
Aos sonhadores, otimistas e lunáticos Boa noite! Aos que espalham beijos e abraços Boa noite! Aos que riem e choram ao mesmo tempo Boa noite! Aos que sabem ouvir o vento Boa noite! Aos que acolhem a chuva e o sol Boa noite! Aos que cantam com ou sem bemol Boa noite! Aos que erram, aprendem e resistem Boa noite! Aos que crêem que as fadas existem Boa noite! Aos que dançam com ou sem música Boa noite! Aos que desafiam as leis da física Boa noite! Aos que vivem também das saudades Boa noite! Aos que não seguem futilidades Boa noite! Aos que que nos animam Boa noite! Aos que nos cuidam e mimam Boa noite!
Quem somos Células, partículas, pó? Quem somos Apenas sofrimento e dó? Quem somos Otimismo e alegria? Quem somos Procissão e romaria? Quem somos Fome de reconhecimento? Quem somos Sede de crescimento? Quem somos Fruto verde da saudade? Quem somos Mentira ou verdade? Quem somos Esse triste fado? Quem somos Um sonho equivocado? Quem somos Uma realidade traiçoeira? Quem somos Apenas erros e asneira? Quem somos Um segundo, um minuto, uma hora? Quem somos Aqui e agora?
Dedico este texto a todos os que ousaram sair da zona de conforto. Aos que voaram mais alto, mais longe. Aos que enfrentaram preconceitos, tabus e dogmas. Aos que viraram as costas ao medo e fizeram das suas fraquezas a sua força. Aos que hesitam entre as visitas à família e as férias no estrangeiro. Aos que falham natais, casamentos e batizados, mas que fazem das tripas coração para estarem presentes nos momentos mais difíceis. Aos que são poliglotas, mas continuam a sonhar na língua materna. Aos que pensam um dia regressar, mas sabem que nunca o farão.
Penso sobretudo nos que hesitam em dar o passo. Nos que ponderam os prós e os contras. Nos que já estão quase, mas ainda não estão. Aos quais falta pouco para lá chegarem. Nos que remetem para amanhã, pensando que ainda vão a tempo. E não me esqueço dos que voltam atrás (só os estúpidos é que nunca mudam de ideias). Dos que se arrependem de dar um salto maior do que as pernas (só os idiotas é que raramente se enganam). Dos que engolem o orgulho e regressam ao país que os viu nascer. Sem mágoa nem arrependimento.
Há um luso em cada canto do mundo. Portugal é o berço de exploradores, aventureiros, destemidos e curiosos. As mais variadas razões levaram-nos a procurar lá fora o que não tínhamos cá dentro. Exílio político para uns, melhores condições de vida para outros. Ambição profissional para tantos. Ou vontade de viver além fronteiras, pura e simplesmente. Faço parte destes. Todos iguais, mas todos diferentes. Expatriados. Na mala levamos determinação, vontade e sonhos. No país que nos acolhe sentimo-nos, às vezes, desajustados e com saudades de tudo o que não foi (como escreveu Pessoa). A pátria está longe e a terra onde vivemos não é a nossa. E talvez nunca venha a ser.
Dizem que somos quase três milhões, mas é impossível determinar o número exato. Todos os dias há fluxos de entradas e saídas. Já vivi em cinco países diferentes e, ao longo das inúmeras viagens, encontrei compatriotas nos locais menos prováveis. Portugal é o segundo país da Europa com maior número de emigrantes. Durante muito tempo, no velho continente, França foi o lar da maioria e Canadá e Estados Unidos desempenharam essa função no outro lado do Atlântico.
A crise de 2008 veio mudar o panorama. Nessa altura, o país desresponsabilizou-se, forçando muitos a encontrar casa no Reino Unido ou em Espanha e colocando o Luxemburgo e a Suíça de novo na lista das preferências. Itália também faz parte dos novos destinos. Por outro lado, Angola deixou de ser a galinha dos ovos de ouro. Revezes da fortuna. Ainda assim, os emigrantes lusos são os que mais dinheiro enviam ao país de origem. Uma mais-valia para a economia nacional, nem sempre paga na mesma moeda.
Durante várias décadas, os emigrantes abalavam nas pontas dos pés, sem fazer barulho. Aceitavam tudo o que lhes era imposto de ânimo leve (?). Não dominavam os números nem as letras, mas não tinham medo do desconhecido. Dormiam em qualquer lado e falavam a língua materna às escondidas. Trabalhavam de sol a sol por uma ninharia. Sentiam-se gratos pelo pouco que tinham porque já era muito mais do que alguma vez pensaram ter.
O mundo mudou e os emigrantes também. Deixamos de ter vergonha do que somos e de onde vimos. Trazemos na bagagem conhecimentos, diplomas, ideias, ousadia e sonhos. Lá fora, elogiam a nossa perseverança e dedicação. Mas deixar a pátria nunca é fácil. A vida não é um rio tranquilo. Ainda bem.
Menina roliça e bonita Apressada e catita Que passa pela minha rua Sou meu, és tua Espedita e risonha Sou teu, és minha Ai um dia, vou ter coragem E deixarás de ser apenas uma miragem Vou contar-te o que guardo no coração Através de um poema ou de uma canção Juntos daremos a volta ao mundo A vida muda num segundo.
Para ti que terminas agora o trabalho Boa noite Para ti que sofres de insónia Boa noite Para ti que tens saudades do Verão Boa noite Para ti que tens medo do escuro Boa noite Para ti que sonhas com a chuva a cair Boa noite Para ti que guardas a esperança Boa noite Para ti que gostas tanto de dormir Boa noite Para ti que sabes que vai correr tudo bem Boa noite Para ti que anseias pelo amanhã Boa noite.
Sou as águas do Atlântico Sou a areia da Meia Praia Sou azul, verde e branco Sou o fado de Lisboa Sou as contas de Viana Sou vida boa! Sou um dia de Outono no Douro Sou a brisa do Guincho Sou a paisagem do miradouro Sou as saudades de Guimarães Sou a humidade de Sintra Sou feita de todas as mães Sou o cante Alentejano Sou a preguiça de Tavira Sou choro e desengano Sou a erva fresca dos Açores Sou a serra do Gerês Sou um jardim cheio de flores Sou a cadeira vazia no meio da praça Sou a pronúncia do Norte Sou magia e graça Sou o bolo da Madeira Sinto-me em cacos Mas estou inteira.