Diapasão

Reprise

Photo : Filipa Moreira da Cruz

Um sopro
Sem fôlego
Uma vontade
Partilhada
Um desejo
Reprimido
Uma aventura
Inacabada
Um sonho
Impossível
Um passeio
Sem rumo
Um mundo
Em guerra
Uma casa
Sem paz
Um minuto
Sem segundo
Uma vida
A minha?
A tua?
Tanto faz!

Filipa Moreira da Cruz

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À deriva

Reprise

Perdi-me nos teus olhos
Azuis como o oceano
Intensamente límpidos
O divino toca o profano
Fui apanhada de surpresa
Pela tempestade
Que chegou com pressa
De contar toda a verdade
Engolida pelo mar
Varrida pelo vento
Sufoquei
Fiquei sem ar
Caí na armadilha do tempo.

Filipa Moreira da Cruz


Photos : Filipa Moreira da Cruz

Ser poeta

Dia Mundial da Poesia

Ser Poeta é ser mais alto, é ser maior do que os homens!

Florbela Espanca
Photo : Filipa Moreira da Cruz

Ser poeta é ser um todo
Pleno e infinito
Brilhante como as estrelas
E triste como a noite sem elas

O poeta sonha, sempre
E quando o desejo perturba a mente
Ousa pensar que a lua
É apenas sua

Ser poeta é ser diferente
Fazer das tripas coração
Ter a alma na palma da mão
Desejar viver para sempre

O poeta é dia e noite
Ao mesmo tempo
E o seu espírito
Está em constante movimento

Ser poeta é deixar de ter
Saciar-se no papel
E no deslizar de uma caneta
Resistir para nunca morrer.

Filipa Moreira da Cruz

Boa noite!

Aos sonhadores, otimistas e lunáticos
Boa noite!
Aos que espalham beijos e abraços
Boa noite!
Aos que riem e choram ao mesmo tempo
Boa noite!
Aos que sabem ouvir o vento
Boa noite!
Aos que acolhem a chuva e o sol
Boa noite!
Aos que cantam com ou sem bemol
Boa noite!
Aos que erram, aprendem e resistem
Boa noite!
Aos que crêem que as fadas existem
Boa noite!
Aos que dançam com ou sem música
Boa noite!
Aos que desafiam as leis da física
Boa noite!
Aos que vivem também das saudades
Boa noite!
Aos que não seguem futilidades
Boa noite!
Aos que que nos animam
Boa noite!
Aos que nos cuidam e mimam
Boa noite!

E a todos os outros que não mencionei

Desejo uma boa noite também.

Filipa Moreira da Cruz

Photos : Filipa Moreira da Cruz

Quem somos?

Photo : Filipa Moreira da Cruz

Quem somos
Células, partículas, pó?
Quem somos
Apenas sofrimento e dó?
Quem somos
Otimismo e alegria?
Quem somos
Procissão e romaria?
Quem somos
Fome de reconhecimento?
Quem somos
Sede de crescimento?
Quem somos
Fruto verde da saudade?
Quem somos
Mentira ou verdade?
Quem somos
Esse triste fado?
Quem somos
Um sonho equivocado?
Quem somos
Uma realidade traiçoeira?
Quem somos
Apenas erros e asneira?
Quem somos
Um segundo, um minuto, uma hora?
Quem somos
Aqui e agora?

Filipa Moreira da Cruz

Ato de fé

Viver é acalentar sonhos e esperanças, fazendo da fé a nossa inspiração maior. É buscar nas pequenas coisas um grande motivo para ser feliz!

Mario Quintana

A força mais potente do universo é a fé.

Madre Teresa de Calcutá

A confiança é ato de fé, e esta dispensa raciocínio.

Carlos Drummond de Andrade

Penso que a fé é a extensão do espírito. É a chave que abre a porta do impossível.

Charles Chaplin

Ter fé é acreditar naquilo que você não vê; a recompensa por essa fé é ver aquilo em que você acredita.

Santo Agostinho

Photos : Filipa Moreira da Cruz

Tão longe e tão perto

Reprise

Photo : KaDDD

Dedico este texto a todos os que ousaram sair da zona de conforto. Aos que voaram mais alto, mais longe. Aos que enfrentaram preconceitos, tabus e dogmas. Aos que viraram as costas ao medo e fizeram das suas fraquezas a sua força. Aos que hesitam entre as visitas à família e as férias no estrangeiro. Aos que falham natais, casamentos e batizados, mas que fazem das tripas coração para estarem presentes nos momentos mais difíceis. Aos que são poliglotas, mas continuam a sonhar na língua materna. Aos que pensam um dia regressar, mas sabem que nunca o farão.

Penso sobretudo nos que hesitam em dar o passo. Nos que ponderam os prós e os contras. Nos que já estão quase, mas ainda não estão. Aos quais falta pouco para lá chegarem. Nos que remetem para amanhã, pensando que ainda vão a tempo. E não me esqueço dos que voltam atrás (só os estúpidos é que nunca mudam de ideias). Dos que se arrependem de dar um salto maior do que as pernas (só os idiotas é que raramente se enganam). Dos que engolem o orgulho e regressam ao país que os viu nascer. Sem mágoa nem arrependimento.

Há um luso em cada canto do mundo. Portugal é o berço de exploradores, aventureiros, destemidos e curiosos. As mais variadas razões levaram-nos a procurar lá fora o que não tínhamos cá dentro. Exílio político para uns, melhores condições de vida para outros. Ambição profissional para tantos. Ou vontade de viver além fronteiras, pura e simplesmente. Faço parte destes. Todos iguais, mas todos diferentes. Expatriados. Na mala levamos determinação, vontade e sonhos. No país que nos acolhe sentimo-nos, às vezes, desajustados e com saudades de tudo o que não foi (como escreveu Pessoa). A pátria está longe e a terra onde vivemos não é a nossa. E talvez nunca venha a ser.

Dizem que somos quase três milhões, mas é impossível determinar o número exato. Todos os dias há fluxos de entradas e saídas. Já vivi em cinco países diferentes e, ao longo das inúmeras viagens, encontrei compatriotas nos locais menos prováveis. Portugal é o segundo país da Europa com maior número de emigrantes. Durante muito tempo, no velho continente, França foi o lar da maioria e Canadá e Estados Unidos desempenharam essa função no outro lado do Atlântico.

A crise de 2008 veio mudar o panorama. Nessa altura, o país desresponsabilizou-se, forçando muitos a encontrar casa no Reino Unido ou em Espanha e colocando o Luxemburgo e a Suíça de novo na lista das preferências. Itália também faz parte dos novos destinos. Por outro lado, Angola deixou de ser a galinha dos ovos de ouro. Revezes da fortuna. Ainda assim, os emigrantes lusos são os que mais dinheiro enviam ao país de origem. Uma mais-valia para a economia nacional, nem sempre paga na mesma moeda.

Durante várias décadas, os emigrantes abalavam nas pontas dos pés, sem fazer barulho. Aceitavam tudo o que lhes era imposto de ânimo leve (?). Não dominavam os números nem as letras, mas não tinham medo do desconhecido. Dormiam em qualquer lado e falavam a língua materna às escondidas. Trabalhavam de sol a sol por uma ninharia. Sentiam-se gratos pelo pouco que tinham porque já era muito mais do que alguma vez pensaram ter.

O mundo mudou e os emigrantes também. Deixamos de ter vergonha do que somos e de onde vimos. Trazemos na bagagem conhecimentos, diplomas, ideias, ousadia e sonhos. Lá fora, elogiam a nossa perseverança e dedicação. Mas deixar a pátria nunca é fácil. A vida não é um rio tranquilo. Ainda bem.

Filipa Moreira da Cruz
2020

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Reprise

Menina roliça e bonita
Apressada e catita
Que passa pela minha rua
Sou meu, és tua
Espedita e risonha
Sou teu, és minha
Ai um dia, vou ter coragem
E deixarás de ser apenas uma miragem
Vou contar-te o que guardo no coração
Através de um poema ou de uma canção
Juntos daremos a volta ao mundo
A vida muda num segundo.

Filipa Moreira da Cruz

Photos : Filipa Moreira da Cruz

Boa noite

Para ti que terminas agora o trabalho
Boa noite
Para ti que sofres de insónia
Boa noite
Para ti que tens saudades do Verão
Boa noite
Para ti que tens medo do escuro
Boa noite
Para ti que sonhas com a chuva a cair
Boa noite
Para ti que guardas a esperança
Boa noite
Para ti que gostas tanto de dormir
Boa noite
Para ti que sabes que vai correr tudo bem
Boa noite
Para ti que anseias pelo amanhã
Boa noite.

Filipa Moreira da Cruz

Photos : Filipa Moreira da Cruz

Quem és?

Photo : Filipa Moreira da Cruz

Sou as águas do Atlântico
Sou a areia da Meia Praia
Sou azul, verde e branco
Sou o fado de Lisboa
Sou as contas de Viana
Sou vida boa!
Sou um dia de Outono no Douro
Sou a brisa do Guincho
Sou a paisagem do miradouro
Sou as saudades de Guimarães
Sou a humidade de Sintra
Sou feita de todas as mães
Sou o cante Alentejano
Sou a preguiça de Tavira
Sou choro e desengano
Sou a erva fresca dos Açores
Sou a serra do Gerês
Sou um jardim cheio de flores
Sou a cadeira vazia no meio da praça
Sou a pronúncia do Norte
Sou magia e graça
Sou o bolo da Madeira
Sinto-me em cacos
Mas estou inteira.

Filipa Moreira da cruz