Desta vez, nem tive tempo de abraçar a minha Lisboa. Acabada de aterrar, fui para Tomar, a cidade que os meus pais escolheram para viver depois de mais de 60 anos na capital. O calor abrasador baralhou-me o discurso. Nem para falar tinha energia. Já não me lembrava do que eram 42°C à sombra! A terra dos Templários está ainda mais bonita e misteriosa. Do alto da colina, o Convento de Cristo vigia a cidade. Imponente. Com a cabeça no azul do céu e os pés firmes na calçada, tão portuguesa, andar torna-se uma missão quase impossível, tal é o calor. Na praça principal não há viv’alma. Apenas alguns turistas em busca de uma sombra. O Nabão segue o seu curso, refrescando-me os pensamentos. No sítio do costume, os dois Fernandos dão dois dedos de conversa. Que dirá o compositor ao amigo poeta? Nem as moscas devem saber!
Azul intenso, profundo…efémero? Néctar sublime e adúltero Espelho grande, imenso, infinito Que cabe no bolso para estar sempre comigo Um mar de oportunidades Um oceano de saudades Um rio de emoções Um riacho de sensações Azul de Norte a Sul, de Este a Oeste Percorreste o mundo, mas regressaste Devolveste-me o que perdi Trouxeste o que te implorei Do meu universo és rei E não quero viver sem ti.
Filipa Moreira da Cruz
Photos : Filipa Moreira da Cruz, KaDDD e Paul Laurent Bressin
Dizem que tempo é dinheiro, mas eu não trocaria nenhuma fortuna pelo tempo que já tive. Tempo é vida! Cheguei a tempo ao comboio e ao avião. Tive tempo para ir ao hospital e de acompanhar a minha mãe no regresso a casa. Houve tempo para rir e para chorar. Tempo para falar de futilidades e de coisas sérias. Tempo para matar as saudades e dar de comer à solidão. Tempo para abraços e beijos. Gostaria de ter tido ainda mais tempo, mas deste bem precioso não devemos abusar. Tempo não sobra nem nunca é demais. Tempo é empréstimo para a eternidade. O que farão os ricos com tanto dinheiro e sem tempo para o gastar?
A primeira vez que fui aos Estados Unidos tinha 14 anos. A minha mãe fez-me a surpresa e levou-me a Nova Iorque, uma metrópole fascinante com quase tantos habitantes que Portugal. Fiquei deslumbrada com a cidade que nunca dorme. Londres já me tinha conquistado, mas Nova Iorque superou todas as minhas expectativa porque consegue ser ainda mais eclética, cosmopolita, efervescente. Regressei várias vezes e já prometi à minha filha uma viagem a duas.
Seguiram-se seis outras estadias que variaram entre três semanas e dois meses. Tive a sorte de ter uma irmã que viveu vários anos por terras do tio Sam. Também aproveitei para ficar em casa de uma família americana o que me permitiu confirmar todos os clichés (ou talvez não). Abraços calorosos em vez de dois beijos, barbecue ao fim-de-semana, jogo de futebol americano com as cheerleaders a animar a equipa da casa, missa ao domingo de manhã, oração antes de cada refeição, coca-cola à descrição, jantar improvisado com sandes de doce de morango e manteiga de amendoim, os magníficos fogos de artifício no dia 4 de Julho, as gigantescas waffles com maple syrup…
Este país da América do Norte é capaz de reinventar-se e a realidade supera, quase sempre, a melhor produção made in Hollywood. For better or worse. Ainda me lembro da cara de assombro dos jovens estudantes americanos quando viram Portugal no mapa na altura em que assisti a uma aula de História numa escola secundária perto de Pittsburgh. Coincidência ou não, o professor dedicou uma hora aos descobrimentos portugueses e espanhóis. Os alunos pediram-me para indicar-lhes no planisfério o país luso de onde saíram os navegadores que deram a volta ao mundo. Tal como acontece frequentemente, pensavam que o nosso país era uma região da vizinha Espanha. Mas quantos europeus sabem exatamente onde se situa a Moldávia ou a Letónia? E o que sabem acerca da Noruega ou da Ucrânia?
Photo : KaDDD
Os Estados Unidos não deixam quase ninguém indiferente. Há quem deteste e quem adore. Pertenço à segunda categoria, embora nunca tenha caído na tentação de comprar um bilhete de apenas ida. Talvez por falta de coragem, admito. Gosto de viver na Europa. No entanto, este país com mais de 328 milhões de habitantes deslumbra-me, apesar de só conhecer oito dos seus cinquenta estados, uma minúscula amostra desta enorme nação.
Este amor não é cego. Fico, como muitos, chocada com as evidentes incoerências do país. Apesar de 21 estados terem abolido a pena de morte, Michigan foi o primeiro em 1847, mais de metade do país continua a executar presos que se encontram no corredor da morte. Quase todos os indivíduos têm armas e não são raros os acidentes que envolvem jovens ou crianças. O aborto é outra questão sensível e está longe de conseguir uma unamidade.
Os 244 anos de história são ainda insuficientes para a maturidade sócio-política da nação. São vários os episódios que mancharam a tão sobrevalorizada reputação americana e dois dos lobbies mais poderosos, o das armas e o farmacêutico transformam qualquer presidente num fantoche. O dinheiro fala mais alto. É quase impossível mudar a ordem natural das coisas. Num território onde quem não tem um bom seguro de saúde pode morrer, Obama tentou mudar a lei, em vão.
O número de pessoas mortas por Covid-19 já ultrapassou as 500.000. Mais de meio milhão de seres humanos que perderam a vida desde o início da pandemia. Felizmente, o país livrou-se da tirania e da loucura de Trump e esperemos que o novo presidente tome bem conta dos seus. God bless America.
Cidade luz, capital do amor e do sublime Nem sei por onde começar porque não quero que termine Foste casa, brindaste-me com amigos Ah e viste nascer os meus filhos! Sempre que penso em ti fico desamparada Este namoro dura há anos e eu sem ti sou quase nada.
Não estava previsto irmos de férias este ano. Quando soube que tinha direito a uma semana, não hesitei! A vida é um suspiro. Sou abençoada. Estou muito agradecida. Sete dias inteiros a quatro. Sete dias inteiros longe de casa. Sete dias inteiros para nos perdermos no meio dos vinhedos. Sete dias inteiros para visitarmos castelos. Sete dias inteiros para rir, chorar, sentir, calar. Sete dias inteiros para falarmos a sério (e a brincar!) Sete dias inteiros para ouvirmos o silêncio. Até breve! Volto em seguida.