Diapasão

Reprise

Photo : Filipa Moreira da Cruz

Um sopro
Sem fôlego
Uma vontade
Partilhada
Um desejo
Reprimido
Uma aventura
Inacabada
Um sonho
Impossível
Um passeio
Sem rumo
Um mundo
Em guerra
Uma casa
Sem paz
Um minuto
Sem segundo
Uma vida
A minha?
A tua?
Tanto faz!

Filipa Moreira da Cruz

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Do cimo do farol

Reprise

Do cimo do farol sinto o mundo como mais ninguém
Vejo o nascer do sol e quando ele se deita também
Observo o arco-íris e as nuvens que dançam no céu
Sinto a maresia e agarro este vento só meu
Fecho os olhos e oiço as ondas do mar
A maré sobe e sinto-me a naufragar
Os pássaros trazem-me notícias do outro lado do mundo
Peço-lhes que me concedam mais um segundo
Um instante basta para que a areia volte a ficar seca
Quanto ao resto… pouco ou nada interessa!

Filipa Moreira da Cruz


Photos: Filipa Moreira da Cruz




La solitudine

La soledad es la gran talladora del espíritu. 

Federico García Lorca

A mis soledades voy, de mis soledades vengo, porque para andar conmigo, me bastan mis pensamientos.

Félix Lope De Vega

Ama tu soledad, y soporta el sufrimiento que te cause. 

Rainer Maria Rilke

Quien no sabe poblar su soledad, tampoco sabe estar solo entre una multitud atareada. 

Charles Baudelaire

Photos : Filipa Moreira da Cruz

Vitré V

Quem constrói a casa não é quem a ergueu, mas quem nela mora.

Mia Couto

Uma casa morre, se não é habitada com amor.

Mia Couto

A janela: não é onde a casa sonha ser mundo?

Mia Couto

O importante não é a casa onde moramos, mas onde, em nós, a casa mora.

Mia Couto

Photos : Filipa Moreira da Cruz

Vitré IV

Para viajar basta existir.

Fernando Pessoa

Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo…

Fernando Pessoa

As nações são todas mistérios. Cada uma é todo o mundo a sós.

Fernando Pessoa

Lá fora passarão civilizações, escacharão revoltas, turbilhonarão festas, correrão mansos quotidianos povos.. E nós, ó meu amor irreal, teremos sempre o mesmo gesto inútil, a mesma existência falsa.

Fernando Pessoa

Photos : Filipa Moreira da Cruz

Carnaval dos animais

Reprise

As araras mergulham de cabeça
O caracol avança a 100 à hora
Cheio de pressa!
Pensam que é história?
Ou conversa da treta?
O sapo come cenouras frescas
E fica à espreita
O lagarto bebe água e cospe fogo
A borboleta escolhe as suas presas
O peixe conta piadas de mau gosto
A tartaruga brinca às escondidas
O mundo está louco!
E os animais fazem birras.

Filipa Moreira da Cruz

Photos : Filipa Moreira da Cruz

ViAjAr

Photo: Filipa Moreira da Cruz

Viajar
Perder países
Soltar amarras
E partir
Viajar
Perder países
Levantar voo
E sem medo
Percorrer as raízes
Viajar
Perder países
Abraçar o mundo
Para sermos felizes.

Este é para você Fernando, inspirado num poema de outro Fernando, o Pessoa.

Filipa Moreira da Cruz

Tão longe e tão perto

Reprise

Photo : KaDDD

Dedico este texto a todos os que ousaram sair da zona de conforto. Aos que voaram mais alto, mais longe. Aos que enfrentaram preconceitos, tabus e dogmas. Aos que viraram as costas ao medo e fizeram das suas fraquezas a sua força. Aos que hesitam entre as visitas à família e as férias no estrangeiro. Aos que falham natais, casamentos e batizados, mas que fazem das tripas coração para estarem presentes nos momentos mais difíceis. Aos que são poliglotas, mas continuam a sonhar na língua materna. Aos que pensam um dia regressar, mas sabem que nunca o farão.

Penso sobretudo nos que hesitam em dar o passo. Nos que ponderam os prós e os contras. Nos que já estão quase, mas ainda não estão. Aos quais falta pouco para lá chegarem. Nos que remetem para amanhã, pensando que ainda vão a tempo. E não me esqueço dos que voltam atrás (só os estúpidos é que nunca mudam de ideias). Dos que se arrependem de dar um salto maior do que as pernas (só os idiotas é que raramente se enganam). Dos que engolem o orgulho e regressam ao país que os viu nascer. Sem mágoa nem arrependimento.

Há um luso em cada canto do mundo. Portugal é o berço de exploradores, aventureiros, destemidos e curiosos. As mais variadas razões levaram-nos a procurar lá fora o que não tínhamos cá dentro. Exílio político para uns, melhores condições de vida para outros. Ambição profissional para tantos. Ou vontade de viver além fronteiras, pura e simplesmente. Faço parte destes. Todos iguais, mas todos diferentes. Expatriados. Na mala levamos determinação, vontade e sonhos. No país que nos acolhe sentimo-nos, às vezes, desajustados e com saudades de tudo o que não foi (como escreveu Pessoa). A pátria está longe e a terra onde vivemos não é a nossa. E talvez nunca venha a ser.

Dizem que somos quase três milhões, mas é impossível determinar o número exato. Todos os dias há fluxos de entradas e saídas. Já vivi em cinco países diferentes e, ao longo das inúmeras viagens, encontrei compatriotas nos locais menos prováveis. Portugal é o segundo país da Europa com maior número de emigrantes. Durante muito tempo, no velho continente, França foi o lar da maioria e Canadá e Estados Unidos desempenharam essa função no outro lado do Atlântico.

A crise de 2008 veio mudar o panorama. Nessa altura, o país desresponsabilizou-se, forçando muitos a encontrar casa no Reino Unido ou em Espanha e colocando o Luxemburgo e a Suíça de novo na lista das preferências. Itália também faz parte dos novos destinos. Por outro lado, Angola deixou de ser a galinha dos ovos de ouro. Revezes da fortuna. Ainda assim, os emigrantes lusos são os que mais dinheiro enviam ao país de origem. Uma mais-valia para a economia nacional, nem sempre paga na mesma moeda.

Durante várias décadas, os emigrantes abalavam nas pontas dos pés, sem fazer barulho. Aceitavam tudo o que lhes era imposto de ânimo leve (?). Não dominavam os números nem as letras, mas não tinham medo do desconhecido. Dormiam em qualquer lado e falavam a língua materna às escondidas. Trabalhavam de sol a sol por uma ninharia. Sentiam-se gratos pelo pouco que tinham porque já era muito mais do que alguma vez pensaram ter.

O mundo mudou e os emigrantes também. Deixamos de ter vergonha do que somos e de onde vimos. Trazemos na bagagem conhecimentos, diplomas, ideias, ousadia e sonhos. Lá fora, elogiam a nossa perseverança e dedicação. Mas deixar a pátria nunca é fácil. A vida não é um rio tranquilo. Ainda bem.

Filipa Moreira da Cruz
2020

Felicidade

Reprise

Vou contar-te um segredo
Os homens dão a volta ao mundo
Em busca de fama e poder
E num segundo o ter aniquila o ser
Enfiam uma máscara agridoce
Uns dias sai o sol e noutros chove
De repente, o universo torna-se pequeno
A loucura engole o sereno
A alienação espezinha a razão
Colecionam-se coisas e não recordações
Brisam-se corpos e corações
E esses seres insignificantes
Esquecem-se que a vida são meros instantes
A morte, essa sim, é uma certeza
E a lenda reza
Que ninguém cá ficará
Para contar como acabará
Então, não será melhor começar a viver?
Olha ao teu redor
A felicidade tem cheiro e cor!

Filipa Moreira da Cruz

Photos : Filipa Moreira da Cruz

Verde como te quero!

Reprise

Verde água
Verde azeitona
Verde tropa
Verde floresta
Verde mar
Verde garrafa
Verde natureza
Verde pomar
Verde esperança
Verde é vida
Equilíbrio e perseverança.

Filipa Moreira da Cruz

Photos : Filipa Moreira da Cruz, Anne-Hortense e João