Um sopro Sem fôlego Uma vontade Partilhada Um desejo Reprimido Uma aventura Inacabada Um sonho Impossível Um passeio Sem rumo Um mundo Em guerra Uma casa Sem paz Um minuto Sem segundo Uma vida A minha? A tua? Tanto faz!
Do cimo do farol sinto o mundo como mais ninguém Vejo o nascer do sol e quando ele se deita também Observo o arco-íris e as nuvens que dançam no céu Sinto a maresia e agarro este vento só meu Fecho os olhos e oiço as ondas do mar A maré sobe e sinto-me a naufragar Os pássaros trazem-me notícias do outro lado do mundo Peço-lhes que me concedam mais um segundo Um instante basta para que a areia volte a ficar seca Quanto ao resto… pouco ou nada interessa!
Sinto-me nascido a cada momento Para a eterna novidade do Mundo…
Fernando Pessoa
As nações são todas mistérios. Cada uma é todo o mundo a sós.
Fernando Pessoa
Lá fora passarão civilizações, escacharão revoltas, turbilhonarão festas, correrão mansos quotidianos povos.. E nós, ó meu amor irreal, teremos sempre o mesmo gesto inútil, a mesma existência falsa.
As araras mergulham de cabeça O caracol avança a 100 à hora Cheio de pressa! Pensam que é história? Ou conversa da treta? O sapo come cenouras frescas E fica à espreita O lagarto bebe água e cospe fogo A borboleta escolhe as suas presas O peixe conta piadas de mau gosto A tartaruga brinca às escondidas O mundo está louco! E os animais fazem birras.
Viajar Perder países Soltar amarras E partir Viajar Perder países Levantar voo E sem medo Percorrer as raízes Viajar Perder países Abraçar o mundo Para sermos felizes.
Este é para você Fernando, inspirado num poema de outro Fernando, o Pessoa.
Dedico este texto a todos os que ousaram sair da zona de conforto. Aos que voaram mais alto, mais longe. Aos que enfrentaram preconceitos, tabus e dogmas. Aos que viraram as costas ao medo e fizeram das suas fraquezas a sua força. Aos que hesitam entre as visitas à família e as férias no estrangeiro. Aos que falham natais, casamentos e batizados, mas que fazem das tripas coração para estarem presentes nos momentos mais difíceis. Aos que são poliglotas, mas continuam a sonhar na língua materna. Aos que pensam um dia regressar, mas sabem que nunca o farão.
Penso sobretudo nos que hesitam em dar o passo. Nos que ponderam os prós e os contras. Nos que já estão quase, mas ainda não estão. Aos quais falta pouco para lá chegarem. Nos que remetem para amanhã, pensando que ainda vão a tempo. E não me esqueço dos que voltam atrás (só os estúpidos é que nunca mudam de ideias). Dos que se arrependem de dar um salto maior do que as pernas (só os idiotas é que raramente se enganam). Dos que engolem o orgulho e regressam ao país que os viu nascer. Sem mágoa nem arrependimento.
Há um luso em cada canto do mundo. Portugal é o berço de exploradores, aventureiros, destemidos e curiosos. As mais variadas razões levaram-nos a procurar lá fora o que não tínhamos cá dentro. Exílio político para uns, melhores condições de vida para outros. Ambição profissional para tantos. Ou vontade de viver além fronteiras, pura e simplesmente. Faço parte destes. Todos iguais, mas todos diferentes. Expatriados. Na mala levamos determinação, vontade e sonhos. No país que nos acolhe sentimo-nos, às vezes, desajustados e com saudades de tudo o que não foi (como escreveu Pessoa). A pátria está longe e a terra onde vivemos não é a nossa. E talvez nunca venha a ser.
Dizem que somos quase três milhões, mas é impossível determinar o número exato. Todos os dias há fluxos de entradas e saídas. Já vivi em cinco países diferentes e, ao longo das inúmeras viagens, encontrei compatriotas nos locais menos prováveis. Portugal é o segundo país da Europa com maior número de emigrantes. Durante muito tempo, no velho continente, França foi o lar da maioria e Canadá e Estados Unidos desempenharam essa função no outro lado do Atlântico.
A crise de 2008 veio mudar o panorama. Nessa altura, o país desresponsabilizou-se, forçando muitos a encontrar casa no Reino Unido ou em Espanha e colocando o Luxemburgo e a Suíça de novo na lista das preferências. Itália também faz parte dos novos destinos. Por outro lado, Angola deixou de ser a galinha dos ovos de ouro. Revezes da fortuna. Ainda assim, os emigrantes lusos são os que mais dinheiro enviam ao país de origem. Uma mais-valia para a economia nacional, nem sempre paga na mesma moeda.
Durante várias décadas, os emigrantes abalavam nas pontas dos pés, sem fazer barulho. Aceitavam tudo o que lhes era imposto de ânimo leve (?). Não dominavam os números nem as letras, mas não tinham medo do desconhecido. Dormiam em qualquer lado e falavam a língua materna às escondidas. Trabalhavam de sol a sol por uma ninharia. Sentiam-se gratos pelo pouco que tinham porque já era muito mais do que alguma vez pensaram ter.
O mundo mudou e os emigrantes também. Deixamos de ter vergonha do que somos e de onde vimos. Trazemos na bagagem conhecimentos, diplomas, ideias, ousadia e sonhos. Lá fora, elogiam a nossa perseverança e dedicação. Mas deixar a pátria nunca é fácil. A vida não é um rio tranquilo. Ainda bem.
Vou contar-te um segredo Os homens dão a volta ao mundo Em busca de fama e poder E num segundo o ter aniquila o ser Enfiam uma máscara agridoce Uns dias sai o sol e noutros chove De repente, o universo torna-se pequeno A loucura engole o sereno A alienação espezinha a razão Colecionam-se coisas e não recordações Brisam-se corpos e corações E esses seres insignificantes Esquecem-se que a vida são meros instantes A morte, essa sim, é uma certeza E a lenda reza Que ninguém cá ficará Para contar como acabará Então, não será melhor começar a viver? Olha ao teu redor A felicidade tem cheiro e cor!
Verde água Verde azeitona Verde tropa Verde floresta Verde mar Verde garrafa Verde natureza Verde pomar Verde esperança Verde é vida Equilíbrio e perseverança.
Filipa Moreira da Cruz
Photos : Filipa Moreira da Cruz, Anne-Hortense e João