Parabéns mãe!

Dear mum,

These flowers are for you
Wishing you will stay here too
You light up the saddest days
Without whining or complaints
You accept life as it comes
You believe in fairies and miracles
So do I!
I know you’re in good hands
Being alive is a blessing
Breathing is a victory
We’ve travelled around the world
My head flying between the clouds
Your feet firmly on the ground
Or was it the other way around?
We have shared long conversations
So many sleepless nights
Filled with loud laughters and silent tears
You’ve shown me that dreams have no limits
And (almost) everything is possible
You believed in me when others didn’t
You gave me the hand and pushed me further
I’m sure 67 is not the end
Your path will continue
God is patient; He will wait
We still need you among us
This year, you are not out of my sight
And always present in my heart
Distance will never tear us apart.

Filipa Moreira da Cruz

Photos : Filipa Moreira da Cruz

Rosso

Dear mum,

These flowers are for you
Wishing you here too
You light up the saddest days
Without whining or complaints
You accept life as it comes
You believe in fairies and miracles
So do I!
I know you’re in good hands
Being alive is a blessing
Breathing is a victory
We’ve travelled around the world
My head flying between the clouds
Your feet firmly on the ground
Or was it the other way around?
We have shared long conversations
So many sleepless nights
Filled with loud laughters and silent tears
You’ve shown me that dreams have no limits
And (almost) everything is possible
You believed in me when others didn’t
You gave me the hand and pushed me further
I’m sure 66 is not the end
Your path will continue
God is patient. He will wait
We still need you among us
You are out of my sight
But always present in my heart
Distance will never tear us apart.

Filipa Moreira da Cruz

Photos : Filipa Moreira da Cruz

Se não for Covid, pode esperar?!

Photo : KaDDD

Há uns dias ligou-me uma amiga. Finalmente (pensei)! A última vez que falamos ao telefone foi no início do ano. Depois dessa data enviei-lhe várias mensagens, mas nunca obtive nenhuma resposta. Quando atendi o telefone apressou-se a desculpar-se dizendo-me que estava muito ocupada. Com o quê? Não tem filhos e está em layoff desde novembro. Obviamente que estas ilações não foram pronunciadas em voz alta. Tento sempre evitar juízos de valor antes de conhecer a situação. Ainda bem que o fiz.

A Louise soube, em Fevereiro, que tem um cancro do cólon e começou, pouco depois, os tratamentos. Três vezes por semana, a ambulância vai buscá-la a casa para as sessões de radioterapia. O cateter já foi colocado para a quimioterapia que se segue. O médico disse-lhe que foi diagnosticada a tempo, mas lamentou que a paciente não tivesse ido à consulta desde o aparecimento dos primeiros sintomas. A minha amiga relembrou-lhe que o rendez-vous foi adiado três vezes por causa da « crise sanitária ».

Não pude deixar de pensar na minha mãe. Tal como a Louise, também ela não gosta de incomodar os outros com aspetos ligados à saúde e raramente se queixa. Quando me ligou para anunciar-me que tinha um cancro (o primeiro) disse-me: « estou com um probleminha ». Eu perdi o chão, faltou-me o ar. Fiquei sem palavras. Algo que acontece raramente. Na altura, vivia em Paris e estava a ponto de mudar-me, com a família, para a Nova Caledónia. O meu marido acabou por recusar a oferta de trabalho. Estava fora de questão ir viver para o outro lado do mundo.

A situação repetiu-se, mas eu não fui atrás da história da Carochinha. Quando a minha mãe me voltou a anunciar outro probleminha apanhei o avião e conversamos na sala da casa em Alvalade, pouco tempo depois de ter aterrado. Uma das vantagens de ter um aeroporto dentro da cidade. Acompanhei-a ao médico na Avenida de Roma e a uma consulta no IPO, onde fiquei na sala de espera. Desta vez, a minha mãe foi tratada exclusivamente no hospital público, o que a fez respirar de alívio por razões económicas e, sobretudo, humanas. Os serviços privados, muitas vezes, dão-se ares de hotéis de cinco estrelas esquecendo-se que os pacientes não precisam de room service 24 horas ou de um concierge, mas sim de quem cuide deles.

A Louise não tem outro remédio que ser seguida numa clínica privada porque a prioridade dos hospitais públicos ainda é a Covid. Felizmente, ela tem um bom seguro de saúde. Mas e se não fosse o caso? Como se tratam, neste momento, as pessoas que não têm dinheiro? Quantas operações foram adiadas? Quantas cáries não foram tratadas? (Espero que não seja o meu caso porque tenho pânico do dentista!) Quantos cancros não serão diagnosticados a tempo? Deixámos de ter direito a estar doentes. Só somos considerados seres humanos que necessitam assistência médica enquanto tivermos o vírus. Assim que o resultado for negativo deixamos de ser importantes aos olhos da medicina, ignorando-se os sintomas que persistem. Escrevo-o com conhecimento de causa.

Filipa Moreira da Cruz