Este é o primeiro Natal sem a minha mãe. E estou tão triste! São tantas as saudades! Maldito cancro!
Recordo as celebrações em Lisboa, Porto, Aveiro, Tomar, Caldas da Rainha, Atlanta, Paris, Lyon, Méribel, Grenoble, Saint-Malo, Montreux, Genève, Tenerife, San Sebastián, Fuerteventura. Qualquer lugar era bom para estarmos juntos. A duas, a três, a quatro, a seis, a dez, a vinte, a trinta.
Os meus avós maternos morreram num acidente de automóvel no dia 23 de Dezembro quando a minha mão tinha apenas 15 anos. Durante muitos anos, ela viveu um Natal sem brilho. Entretanto, casou e teve quatro filhos (três raparigas e um rapaz, exactamente como ela e as suas irmãs e irmão). Voltou a decorar a casa pelos filhos. As reuniões familiares em Lisboa eram alegres, barulhentas e duravam até às tantas da madrugada.
Os filhos cresceram e decidiram viver cada um num país diferente e, muitas vezes, não conseguimos estar todos juntos na consoada. Anos mais tarde, a minha mãe descobriu o segundo melhor papel da sua vida : o de avó. E pelos netos o Natal voltou a ser uma grande festa! Até ao ano passado foi assim. Mesmo muito doente, a minha mãe fez um enorme esforço para brincar com os netos e rir das suas piadas.
Este ano o seu lugar na mesa vai estar vazio, mas a sua alma encherá a casa de luz e de esperança.
Feliz Natal para todos os que estão e os que, um dia, aqui estiveram.
Filipa Moreira da Cruz