Big brother is watching us

Photo : KaDDD

Em 1949 o escritor britânico George Orwell publicou o romance « 1984 » no qual relata a vigilância constante e a manipulação levadas a cabo por um Estado totalitário. Nesta metáfora, o Grande Irmão espia, persegue e controla. O partido imaginado por Orwell tem como lema: « Guerra é paz. Liberdade é escravidão. Ignorância é força ». Quanto mais oprimido e ignorante é o povo, mais forte é o Estado. E isto num contexto onde a paz permanente é impossível. Porque nada dura para sempre.

Anos antes, em 1932, um outro escritor britânico escrevia « Admirável Mundo Novo ». Aldous Huxley foi ainda mais longe na premonição das consequências económicas, sociais e políticas da era digital. A história passa-se em Londres, no ano de 2540. E quem diria que parte da ficção se confirmaria oito décadas mais tarde?

Em 2021 atrevemo-nos a pensar que nunca fomos tão livres. Grande ilusão! Criticamos os regimes autoritários, condenamos os atos dos governos opressores, temos opinião sobre tudo. No entanto, ignoramos que somos escravos da tecnologia e dominados por essa grande potência, mais forte do que qualquer Estado : a internet. Os três « w » mudaram o mundo e o regresso ao passado é inconcebível. Desde 1989 que o universo comunica em uníssono, para o bem e para o mal.

Obviamente que os mais céticos recusam qualquer acesso às redes sociais numa tentativa fracassada de salvaguardarem a sua privacidade. Há também os que sentem orgulho na resistência às compras online. Ou ainda os que não saem de casa sem dinheiro na carteira porque não confiam no cartão bancário. Desconheço como estes últimos tiraram a barriga de misérias durante o confinamento.

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Mesmo os mais incrédulos e recatados são obrigados a admitir que a internet é indissociável da sociedade contemporânea. E duvido que exista um indivíduo na Terra que nunca tenha navegado na rede. Excluindo talvez a maioria dos habitantes da Coreia do Norte e algumas pessoas com mais de 80 anos. E ainda assim, tenho dúvidas… A World Wide Web não é o inimigo público a abater. O perigo reside no que podemos fazer com ela. E tudo isto com a aprovação (lícita) de Sua Majestade Facebook (que detém, entre outros Instagram, WhatsApp e Giphy) e do Rei Google, dono e senhor de quase tudo o resto!

Somos 92%, em todo o mundo, a fazer pesquisas através do Google Chrome e talvez haja até quem desconheça que existem outros motores de pesquisa. O gigante de Mountain View é inteligente, perspicaz e talentoso. Antecipa comportamentos, cria necessidades, controla todos os passos e regista as inúmeras ações dos seus utilizadores. Conhece os nossos gostos e as nossas rotinas. Sabe onde vivemos e com quem partilhamos a casa. Nada do que acontece na internet é fruto do azar. Há uma relação causa-efeito. E para que não corramos o risco de tentar recuperar o nosso destino, os cookies estão lá para nos recordar as nossas pesquisas anteriores. Esses bolinhos deliciosos que podemos consumir sem moderação porque não engordam!

Utilizo a internet diariamente e não imagino a minha vida sem esta ferramenta. Comunicar com a família e os amigos que vivem longe nunca foi tão fácil. Isso não significa que não me preocupe com a utilização da informação registada. Antes pelo contrário. Considero essencial a aplicação do direito à privacidade. Mas as leis são lentas. Os algoritmos terão sempre anos de avanço. O Regulamento Geral da Proteção de Dados, elaborado pela União Europeia em 2016, já está obsoleto. E nem os americanos, que se julgam mais espertos que o resto dos mortais, têm a situação controlada. A Federal Trade Commission tenta travar o monopólio dos super poderosos, mas Google, Facebook, Amazon e companhia pagam multas exorbitantes e fica tudo bem.

Este acordo entre cavalheiros tem uma duração limitada, mas para quando o desfecho? Ninguém sabe! Até lá, o melhor é mesmo viver sem pensar muito no assunto. Por muitas voltas que dermos, big brother is (always) watching us!

20 réflexions sur “Big brother is watching us

  1. Questões de fundo colocas aqui. Questões que atravessam os tempos sempre presas e sob controle absoluto (ou quase) de interesses bem identificados, que retém o direito de o coletivo exercer em sua plenitude o senso crítico, por exemplo. Não à toa, continentes como a América do Sul ou mesmo a Latina, a desigualdade social a cada dia é mais grave. O que antes da pandemia- apenas como referência temporal- era neutralizada com acenos aqui e ali de acessos a alguns instrumentos do cotidiano e muito em função também de permitir tal acesso para o exercício do controle, após a catástrofe humanitária por que vivemos fica mais evidente que os níveis de desigualdade são muito maiores do que imaginávamos e por consequência o estado de controle ainda mais forte. Mais uma vez, apenas como exemplo, as estruturas básicas de educação, habitação, segurança, saúde, emprego destoam do nível estrutural ao acesso da tecnologia. E isso é a contramão de todo e qualquer processo civilizatório. Não tenho educação ou não posso ter porque tenho que suprir outras necessidades da vida, mas tenho um celular e conecto com o mundo exterior. Isso é ser contra a tecnologia? Não, absolutamente não, apenas revela a falta de compromisso histórico do Estado com o coletivo como coletivo e não parte dele e a liberação do a acesso à tecnologia como sinônimo de liberdade. O tema é muito complexo para pouco espaço mas saúdo que o tenhas trazido à discussão e reflexão. É um passo adiante. Abraço imenso e um beijo. 💐❤️☕️

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  2. Filipa, eu até tenho aqui salvo nos meus favoritos outros motores de buscas mas parece que o Google é o único. aff! E sobre a invasão de nossa privacidade vejo que isso está ficando cada vez mais claro, até mesmo conversando com uma pessoa pessoalmente, falamos o nome de uma determinada necessidade e de repente a coincidência aparece nos oferecendo em alguma rede. Os algoritmos são « saqueadores de mentes ».

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