Há uns dias ligou-me uma amiga. Finalmente (pensei)! A última vez que falamos ao telefone foi no início do ano. Depois dessa data enviei-lhe várias mensagens, mas nunca obtive nenhuma resposta. Quando atendi o telefone apressou-se a desculpar-se dizendo-me que estava muito ocupada. Com o quê? Não tem filhos e está em layoff desde novembro. Obviamente que estas ilações não foram pronunciadas em voz alta. Tento sempre evitar juízos de valor antes de conhecer a situação. Ainda bem que o fiz.
A Louise soube, em Fevereiro, que tem um cancro do cólon e começou, pouco depois, os tratamentos. Três vezes por semana, a ambulância vai buscá-la a casa para as sessões de radioterapia. O cateter já foi colocado para a quimioterapia que se segue. O médico disse-lhe que foi diagnosticada a tempo, mas lamentou que a paciente não tivesse ido à consulta desde o aparecimento dos primeiros sintomas. A minha amiga relembrou-lhe que o rendez-vous foi adiado três vezes por causa da « crise sanitária ».
Não pude deixar de pensar na minha mãe. Tal como a Louise, também ela não gosta de incomodar os outros com aspetos ligados à saúde e raramente se queixa. Quando me ligou para anunciar-me que tinha um cancro (o primeiro) disse-me: « estou com um probleminha ». Eu perdi o chão, faltou-me o ar. Fiquei sem palavras. Algo que acontece raramente. Na altura, vivia em Paris e estava a ponto de mudar-me, com a família, para a Nova Caledónia. O meu marido acabou por recusar a oferta de trabalho. Estava fora de questão ir viver para o outro lado do mundo.
A situação repetiu-se, mas eu não fui atrás da história da Carochinha. Quando a minha mãe me voltou a anunciar outro probleminha apanhei o avião e conversamos na sala da casa em Alvalade, pouco tempo depois de ter aterrado. Uma das vantagens de ter um aeroporto dentro da cidade. Acompanhei-a ao médico na Avenida de Roma e a uma consulta no IPO, onde fiquei na sala de espera. Desta vez, a minha mãe foi tratada exclusivamente no hospital público, o que a fez respirar de alívio por razões económicas e, sobretudo, humanas. Os serviços privados, muitas vezes, dão-se ares de hotéis de cinco estrelas esquecendo-se que os pacientes não precisam de room service 24 horas ou de um concierge, mas sim de quem cuide deles.
A Louise não tem outro remédio que ser seguida numa clínica privada porque a prioridade dos hospitais públicos ainda é a Covid. Felizmente, ela tem um bom seguro de saúde. Mas e se não fosse o caso? Como se tratam, neste momento, as pessoas que não têm dinheiro? Quantas operações foram adiadas? Quantas cáries não foram tratadas? (Espero que não seja o meu caso porque tenho pânico do dentista!) Quantos cancros não serão diagnosticados a tempo? Deixámos de ter direito a estar doentes. Só somos considerados seres humanos que necessitam assistência médica enquanto tivermos o vírus. Assim que o resultado for negativo deixamos de ser importantes aos olhos da medicina, ignorando-se os sintomas que persistem. Escrevo-o com conhecimento de causa.
Filipa Moreira da Cruz
Texto como importante, verdadeiro e realista. Ninguém, especialmente nosso governo, estava pronto para enfrentar tal crise. Muitas pessoas sofrem com isso. De uma maneira diferente. Devemos permanecer sob os golpes do vírus. Mas quão difícil … e injusto. Coragem para você e seus entes queridos Filipa.
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Obrigada Sébastien! 😊🌈
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Oi amiga, verdade… quantos diagnósticos e tratamentos não feitos…as consequências desta pandemia além das imediatas,ainda deixará sequelas em vários aspectos sociais .Mas, temos de seguir em frente… tenhamos Fé 🌹✨✨
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Sim amiga. Beijo para vocês.
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🌹 Bom dia a todos vocês querida ❤️
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🌹❤🌺
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I agree! I also resent how political it’s all become. At least over here. If you complain that maybe we’re over doing it and maybe it’s time to move on now that the vulnerable are being vaccinated everyone treats you like you some sort of heartless conservative. 😂 Which for me personally, couldn’t be farther from the truth. But yes, I agree that we’re doing more harm than good now for public sagety
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It all comes to political interests Colin. You’re so right! I think it’s time to move on. We have to learn to live with the virus. Maybe, I’m being selfish because I had it already…
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I’m glad you are okay ☺️
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Thanks Colin! I must confess that it took me time to recover completely due to my asthma. But, life goes on.
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You are too strong and feisty for that 😂
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Oh yeah!!! And chubby too!
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Not chubby. Full of life! 😝 😂
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Infelizmente, é esta a triste realidade… que tudo corra pelo melhor 💚
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Obrigada querida Marta! Beijinhos.
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Você expõe uma realidade que preocupa bastante, Filipa. Esse finalzinho é realmente muito bom. As consequências não nefastas…prejuizos incalculáveis, sem dúvida. Muito triste, para não dizer outra coisa. Realmente, o momento é muito delicado.
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Sim Marii, mas eu mantenho a fé e a esperança.
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Bom, fui diagnosticado com câncer de cólon em dezembro/18, cirurgia em janeiro/19 (já estava com obstrução intestinal), colocação de cateter no peito, uma série de exames, oncologia, seis meses de quimioterapia e até agora os exames de controle estão negativos. Todavia, mesmo em tempos tristes de pandemia, nenhuma doença ou sintomas entram em quarentena ou confinamento. Tenho ido regularmente ao hospital para exames e consultas. Mente forte, ocupada, decidida e levamos em frente a vida. Dará certo, Filipa. Assim como temos que fazer a nossa parte para que o vírus não se dissemine, junto com a medicina anda junto nossa disciplina e consciência do que temos e vamos à batalha. Conta comigo. Grande abraço.
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Obrigada pelo seu depoimento Fernando! ❤ Falar de câncer tem que deixar de ser um tabu. Você tem razão, « nenhuma doença ou sintomas entram em quarentena ou confinamento ». Fico muito feliz por saber que os exames são negativos. 💪💪Cuide de si Fernando. Um forte abraço e muita luz. 🌠
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